São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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ELOGIO AOS SONHOS

Em sonho
sou capaz de pintar como Vermeer van Delft.
Falo grego fluente
e não somente com os vivos.
Dirijo um automóvel
que me obedece.
Ouço vozes
não menos que os santos mais destacados.
Vocês ficariam atarantados
com minha virtuosidade ao piano.
Flutuo, como se deve,
isto é, sozinha.
Caindo do telhado
consigo aterrissar suave sobre a relva.
Não tenho dificuldade
em respirar debaixo da água.
Não me queixo:
pude descobrir a Atlântida.
Alegra-me que consiga acordar
sempre antes da morte.
Retorno ao melhor recanto
logo antes do início da guerra.
Sou, mas não preciso ser,
uma criança de meu tempo.
Alguns anos faz
enxerguei dois sóis.
E anteontem, um pinguim -
com a maior clareza.

Poemas de WISLAWA SZYMBORSKA
Traduções de ALEKSANDAR JOVANOVIC

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