São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Sistema nervoso do feto não funciona como o dos adultos

DA "NEW SCIENTIST"

Quando um feto começa a ter consciência? Parte do debate travado entre pessoas favoráveis e contrárias ao aborto depende dessa resposta. Consciência não significa aqui a capacidade de reflexão, mas a capacidade do cérebro de interpretar e dar respostas a sinais enviados pelo organismo.
O primeiro sinal de atividade cerebral ocorre na 13ª semana da gestação. A pesquisadora Vivette Glover, do Hospital Chelsea e Queen Charlotte, de Londres, acredita que a consciência fetal começa a se desenvolver a partir do sexto mês da gravidez. Mas, ainda assim, o conceito de consciência fetal seria problemático.
"As pessoas imaginam que o feto tem um sistema nervoso adulto em miniatura e me perguntam em que estágio ele começa a ter sensações como você ou eu. Mas, cientificamente, a pergunta não faz sentido", diz Maria Fitzgerald, do University College, de Londres.
Os fetos usam receptores das células nervosas (as "caixas de correio" que recebem as mensagens no cérebro) e neurotransmissores (as "cartas") diferentes dos dos adultos. As conexões nervosas também não são as mesmas.
Um exemplo disso são as células nervosas da medula espinhal. Nos adultos, cada uma delas é "conectada" de maneira que receba impulsos nervosos de uma pequena região do corpo -a ponta do dedão, por exemplo. Nos fetos, o mesmo neurônio recebe impulsos do pé inteiro. Essa "recepção difusa" de impulsos explica porque bebês prematuros tendem a curvar o corpo inteiro quando espetados, em vez de encolher apenas o membro atingido.
Para que o feto sentisse dor de fato seria preciso que ele já possuísse certas fibras nervosas especializadas. Elas transportam os impulsos nervosos dos receptores de dor de várias regiões do corpo para a medula espinhal. Estudos em fetos mortos são muito difíceis e, portanto, não se sabe exatamente quando essas fibras aparecem.
Um raro estudo desse tipo, de William Snider, da Universidade Washington (EUA), não descobriu essas fibras em fetos de até 19 semanas. Alguns dizem que isso é uma prova de que os fetos não sentem dor. No entanto, o próprio Snider diz que a técnica que utilizou pode ter sido imprecisa.
Estruturas mais complexas do cérebro também precisam estar formadas. No entanto, mesmo com técnicas precisas de obtenção de imagens -que mostram as regiões ativadas do cérebro em cada situação-, não se chegou a uma conclusão sobre quais partes do cérebro de adultos estão envolvidas na percepção da dor.

LEIA MAIS sobre dor e fetos na página 5-14

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