São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Secretária emperra reforma de Clinton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O principal problema pós-eleitoral do presidente reeleito pelas mulheres é uma delas. Não Paula Jones, que o acusa de assédio sexual, nem Gennifer Flowers, que diz ter sido sua amante, ou mesmo Hillary, a primeira-dama.
A mulher que complica a vida de Bill Clinton nestes dias felizes de usufruto da vitória é uma solteirona de 58 anos, ar compenetrado de rigorosa diretora de escola secundária, chamada Janet Reno, secretária da Justiça dos EUA.
Reno nunca foi do grupo íntimo de Clinton e provavelmente jamais teria deixado o anonimato da promotoria pública de Miami, não fosse um dos muitos desastres estratégicos do início do governo.
Pressionado pela primeira-dama, o presidente prometeu que nomearia uma mulher para chefiar o Departamento da Justiça, a primeira da história. A escolhida foi uma amiga de Hillary, Zoe Baird. Mas Baird foi forçada a abrir mão da indicação, que já estava no Senado para confirmação, porque se descobriu que ela tinha um casal de empregados domésticos estrangeiros em situação ilegal no país, a quem ela nunca havia pago as obrigações sociais.
Não ficaria bem insistir em colocar no comando do aparato estatal responsável pelo cumprimento da lei uma pessoa que havia descumprido duas delas. Clinton resolveu nomear outra amiga de Hillary, Kimba Wood. Dias após o anúncio, outra bomba: esta também tivera uma imigrante ilegal como babá. No sufoco do "Babágate", Clinton foi buscar Reno, sem filhos e sem empregados.
Ela começou a fazer sucesso quando assumiu toda a responsabilidade pela tragédia de Waco, onde agentes federais invadiram a sede de uma seita religiosa, após 51 dias de cerco, e provocaram a morte de 71 pessoas, inclusive 17 crianças. Naquele episódio, a independência de Reno, que tomou a iniciativa de ir à televisão dizer que era a ela, não ao presidente, que se deveria culpar pela tragédia, foi conveniente para Clinton.
Depois, passou a ser incômoda. Reno nomeou quatro promotores independentes para investigarem denúncias de corrupção no governo, inclusive um para o caso Whitewater, que envolve o presidente e a primeira-dama e que já pôs na cadeia Webster Hubbell, o homem que Clinton e Hillary haviam colocado no Departamento da Justiça como subsecretário para exercer o poder de fato, com autoridade emanada direto da Casa Branca.
Quando Reno anunciou que sofre do mal de Parkinson, em 1995, Clinton deve ter imaginado que sua renúncia era questão de meses. Mas ela se apegou ao cargo, diz que só sai demitida e que Clinton não pode demiti-la sem passar a impressão de beneficiar-se.

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