São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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Genghis Khan inspira nacionalismo mongol

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL À MONGÓLIA

A Mongólia pós-comunismo volta a reverenciar a memória do conquistador Genghis Khan. O país mergulha numa onda de nacionalismo que resgata, como figura principal, o líder militar do século 13, banido dos livros de história durante o regime comunista (leia texto ao lado).
A ideologia do regime pró-soviético, desaparecido em 1990, descrevia Genghis Khan como "um líder cruel, invasor e destruidor da paz mundial". Reverenciar a memória do conquistador correspondia a "atividade subversiva e contra-revolucionária".
No final do século 20, Genghis Khan volta a pairar sobre a Mongólia. Sua efígie ilustra as notas de mil togrogs (a moeda local), seu nome identifica praças e avenidas, e suas conquistas retornam às aulas de história mongol.
A onda de nacionalismo chegou com a falência do regime soviético. Durante quase sete décadas, até 1990, a Mongólia sobreviveu como um satélite da União Soviética, que proporcionava proteção diante da ameaça da China.
As ordens vinham de Moscou. E os historiadores soviéticos, numa vingança tardia, impuseram à Mongólia a rejeição à memória de Genghis Khan, pois os russos foram principais vítimas das conquistas mongóis no século 13.
Os ex-comunistas da Mongólia, hoje na oposição, lamentam a opção do passado. "Tivemos de sacrificar o significado de Genghis Khan para preservar a relação com Moscou. Foi antes de tudo uma atitude pragmática", diz à Folha Nambaryn Enkhbayar, secretário-geral do Partido Revolucionário do Povo Mongol.
A imagem de Genghis Khan lidera a ofensiva para afirmar a identidade nacional de um país prensado entre Rússia e China.
"Ele uniu as tribos mongóis, criou um Estado e nos deu o sentimento de dignidade e independência", opina Ganbold, secretário-geral da governista Coalizão União Democrática. O economista cultiva a tradição mongol de ter apenas um nome.
Embalado pela busca de "raízes nacionais", o budismo renasce no lugar do ateísmo imposto durante décadas. Historiadores mongóis avaliam que o regime comunista tenha destruído 800 templos budistas e matado 17 mil monges.
Já foram restaurados mais de 150 templos, e vivem na Mongólia cerca de 2.000 monges. Há seis anos eles não chegavam a 200.
A capital, Ulan Bator, também planeja mudanças. Em 2006, para comemorar os 800 anos da criação do Império Mongol, a cidade pretende inaugurar um palácio que reproduza as características da corte de Genghis Khan e promete ainda uma estátua do conquistador para decorar a paisagem.
O peso da influência russa ainda se destaca. Os principais jornais e revistas recorrem ao alfabeto cirílico, usado por idiomas como o russo e imposto pelos soviéticos na Mongólia nos anos 40.
"O uso do alfabeto mongol volta lentamente", explica o professor Ayudai Ochir, diretor do Instituto de História da Academia de Ciências da Mongólia. Mas o problema, diz ele, é a falta de professores que saibam usar as 26 letras do alfabeto tradicional.

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