São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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O MERCOSUL ERGUE A VOZ

A defesa do Mercosul, por meio de um protesto formal do governo brasileiro junto à OMC (Organização Mundial do Comércio) contra documento do Banco Mundial divulgado recentemente, inaugura uma nova fase nas relações externas do país. O episódio é também revelador dos impasses atualmente vividos pelo sistema internacional, mais especificamente nos organismos multilaterais.
Embora nos últimos anos o Brasil tenha abraçado, aliás tardiamente, políticas liberalizantes e de maior exposição à concorrência econômica externa, no Ministério das Relações Exteriores continua viva uma tradição de defesa da autonomia do país.
Embora não se vislumbre qualquer pendão neoprotecionista no discurso da política exterior brasileira, o fato inegável, aliás público e notório, é que a diplomacia brasileira considera concluída uma primeira grande onda de abertura econômica no país.
Se haverá outra, quando haverá e em quais condições passam a ser questões pendentes sujeitas não apenas a uma "recalibragem" setorial dos progressos ocorridos até aqui, mas também às prioridades decorrentes da consolidação do projeto de integração regional.
Nesse contexto torna-se compreensível o vigor com que o representante do Brasil junto à OMC, embaixador Celso Lafer, reagiu a um estudo do Banco Mundial que aponta no Mercosul uma tendência protecionista.
Do lado de lá também há mudanças e impasses. Os Estados Unidos assumem uma posição contraditória, ao mesmo tempo cobrando novos avanços em termos de liberalização e utilizando instrumentos unilaterais de pressão, como a lei Helms-Burton. E nos organismos multilaterais há um conflito de vocações e identidades envolvendo as Nações Unidas, o Banco Mundial, o FMI e outros.
O ruído no comércio internacional parece ter aumentado às vésperas da cúpula ministerial da OMC, que ocorrerá em dezembro. É bom que o Mercosul erga sua voz, mas nada garante que o ruído diminua.

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