São Paulo, domingo, 10 de novembro de 1996
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A um passo da escravidão; Provão; Jatene; Voto negro; Realidade à janela; Patético; Voluntariado social

A um passo da escravidão
"É bastante ilustrativa a reportagem do jornalista Fernando Rodrigues 'Estados aumentam ofertas a indústrias' (4/11). Ela mostra que Estados endividados (ou falidos, como queiram) desviam recursos da saúde, educação etc. para, em nome de uma economia globalizada e desregulamentada, radicalizar a implementação do capitalismo como modo de produção desprovido de risco.
É nocivo ao país que, graças à 'guerra fiscal' entre governos estaduais, multinacionais, como a Chrysler, venham aqui se instalar sem despesas com terrenos, edificações, vias de abastecimento, portos e gozem de longa isenção de impostos.
Tais governantes só faltam dispensar essas empresas dos encargos trabalhistas, abrindo espaço para -'modernidade das modernidades'- a reintrodução da escravidão no país."
Ivan Valente, deputado federal pelo PT-SP (São Paulo, SP)

Provão
"A universidade pública não teme ser avaliada; apenas não aceita, cabisbaixa, quaisquer imposições que se lhe queira submeter, mormente aquelas que se revelam equivocadas e inócuas, como é o caso do Exame Nacional de Cursos em questão."
Gustavo Ungaro, presidente do Centro Acadêmico "XI de Agôsto", da Faculdade de Direito da USP -Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)
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"Se uma pessoa que conclui um curso superior não está preparada para fazer uma prova de conhecimentos, como pode estar preparada para exercer a profissão?
Afinal, o exercício da profissão será uma prova atrás da outra! Será que o presidente da UNE se deixaria operar por um médico que tirasse zero no provão?"
Valéria Prochmann (Curitiba, PR)

Jatene
"O presidente da República talvez não seja ainda capaz de perceber, pode levar anos, mas teve uma grande perda em sua equipe. Durante a gestão Jatene o país deu passos importantíssimos no aperfeiçoamento administrativo, no controle das fraudes, na democratização e na descentralização, consequências do progresso na implantação do Sistema Único de Saúde conforme manda a Constituição.
O ex-ministro não é de nosso partido e nem sequer de esquerda, mas teve, como poucos, a capacidade de ouvir sem preconceitos e enxergar o que havia de positivo nas experiências de diversos municípios, entre os quais Santos é destaque."
Cláudio Maierovitch Pessanha Henriques, secretário de Higiene e Saúde de Santos (Santos, SP)
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"O dr. Adib Jatene foi secretário do sr. Paulo Maluf, ligado à ditadura militar; foi ministro do governo Itamar Franco, que foi vice do Collor, que foi enxotado do governo e do país; e foi ministro do governo FHC, que entrega a saúde pública para a iniciativa privada.
No mínimo é lamentável que alguns queiram '12 Jatenes' no governo e que vereadores, deputados ditos populares e órgãos de classe chorem a saída do ministro."
José Henrique Viégas Lemos (São Paulo, SP)

Voto negro
"Triste o papel neomalufista ('Painel do Leitor', 29/10) do 'tucano' professor Hélio Santos/USP. É mentira que o histórico Movimento Negro Unificado, nascido em 1976, seja o braço negro do PT, fundado em 1982. É mentira que o PT, e demais partidos de esquerda, impeçam o ativismo contra racistas, ao contrário de PPB e PFL.
É mentira que o sr. Pitta, ou qualquer um malufista, tenha atuação alguma contra o racismo e impossível citar um nome negro de conceito militando em tais partidos da direita, antiga Arena.
O sr. Pitta é absolutamente confiável às elites, não aos negros. O professor, secretariável, precisou chafurdar na prática de seus novos aliados. É triste para quem o respeitava."
José R. Militão, vice-presidente da executiva municipal do Partido Socialista Brasileiro -PSB, da coligação Luiza Erundina (São Paulo, SP)
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"Como professora titular da FEA/USP participei do grupo de trabalho criado pela pró-reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo, em comemoração ao tricentenário da morte de Zumbi.
Além de docentes da USP foram convidadas algumas personalidades como o professor Hélio Santos e o ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo Celso Pitta.
Ambos os representantes do grupo negro mostraram grande dedicação e competência na discussão dos assuntos temáticos, em especial os problemas da mão-de-obra negra no Brasil. Por isso causou-me estranheza a acusação feita por alguns militantes do movimento negro de que Celso Pitta nunca manifestou qualquer tipo de compromisso com as bandeiras dos negros.
Cumprimento o professor Hélio Santos, meu colega de luta em prol das cooperativas, por ter vindo a público desfazer tão grave e injusto equívoco."
Diva Benevides Pinho, professora titular da FEA/USP -Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

Realidade à janela
"Sou um dos brasileiros do Primeiro Mundo. Tenho 21 anos e estou estudando em Viena. Sei exatamente o que o professor Jaime Pinsky quis dizer no seu artigo de 6/11 'Onde foi que nós erramos?': está na hora de assumirmos compromissos.
Só vamos mudar a realidade brasileira quando acreditarmos que podemos fazê-lo: temos uma dívida social que nossos avós não pagaram e que não tem presidente ou governo que pague sozinho.
Essa realidade bate na janela de nossos carros todos os dias para cobrá-la. Moedas não bastam: é preciso dar aos outros a oportunidade que nos foi dada."
Ricardo Dal Mas (Viena, Áustria)

Patético
"A tentativa da Polícia Civil de São Paulo de montar uma investigação paralela à das autoridades aeronáuticas nos acidentes dos Mamonas e do vôo 402 da TAM, sem contar para isso com nenhum conhecimento ou recursos técnicos, é no mínimo patética e parece atender apenas a um desejo de aparecer na mídia.
Investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos são coisas sérias que devem ser feitas por um órgão técnico independente e de acordo com as normas e acordos firmados pelo Brasil em fóruns como a Organização de Aviação Civil Internacional (Icao)."
Pedro Goldenstein (Itatiba, SP)

Voluntariado social
"Já era tempo de se criar uma nova ética para o voluntariado social. Fazemos a política apartidária dos excluídos do poder, em defesa dos direitos à cidadania. Vivemos por opção o dia-a-dia da miséria humana e suas consequências.
Esbarramos num palavrão, 'vontade política', próprio dos desgovernos. Se não bastasse, carregamos o pesado fardo de sermos chamadas 'damas beneméritas'.
Pode?"
Maria Ignes Tosello Archetti (Franca, SP)

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