São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996
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Mata-se 50% mais jovens em SP que em NY

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mata-se 50% mais adolescentes no município de São Paulo do que se matava em Nova York antes de ser iniciada a campanha que reduziu a violência nas ruas da maior cidade norte-americana.
Para cada 100 mil adolescentes paulistanos, 88 foram assassinados no ano passado. No total, foram 781 mortos.
Em 92, 262 jovens de 15 a 19 anos foram mortos em Nova York, o que representou um coeficiente de mortalidade de 57,4 por 100 mil. De lá para cá, a polícia passou por uma reengenharia, pequenos delitos passaram a ser punidos e os homicídios caíram em um terço.
Nas ruas paulistanas a realidade foi outra. O coeficiente mais alto é do começo da década, 1991: 95,5 por 100 mil. No ano seguinte, coincidindo com a desaceleração da economia, os homicídios de adolescentes começaram a declinar.
Nível mais baixo
Em 1992 o coeficiente chegou a 88,3/100 mil e, no ano seguinte, foi registrado o nível mais baixo de violência contra jovens dessa faixa etária na década: 74,7/100 mil.
A partir daí, de novo coincidindo com o ciclo econômico, os assassinatos de adolescentes voltaram a crescer, junto com o ritmo de consumo e produção da economia.
Em 1994, o coeficiente subiu para 85,6 por 100 mil e ficou em 88,4/100 mil no ano passado.
"É um período curto (cinco anos) para se identificar uma tendência. Pode-se dizer que há estabilidade com flutuações", analisa a médica Margarida Azevedo Lira, do Programa Municipal de Aprimoramento das Informações de Mortalidade.
Boletim
Esta semana, o Pro-Aim, coordenado por ela, está divulgando um boletim cujo tema principal é justamente o assassinato de adolescentes.
Para Margarida, que junto com sua equipe faz um trabalho minucioso de checagem das causas de morte junto ao Instituto Médico Legal, a evolução da curva de mortalidade de adolescentes na cidade mostra que não tem havido ação eficaz para coibir os assassinatos.
"Só o policiamento não basta. Coibe parcialmente, mas não resolve", afirma. Ela defende saídas que englobem ações coordenadas, envolvendo escola, saúde, profissionalização e lazer.
Bolsões
O boletim do Pro-Aim mostra ainda a divisão de São Paulo em bolsões de violência e relativa tranquilidade.
Enquanto nenhum adolescente foi morto em 95 em nove distritos da cidade (a maioria na região central ou em periferias pouco populosas), 108 foram assassinados só no Jardim Ângela, na zona sul.

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