São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996
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Há salvação para o empresário nacional?

JORGE HORI

Concluída a aquisição da Fogões Dako pela General Electric, vem a indagação: a desnacionalização da economia brasileira é uma consequência inevitável da globalização?
Entendo que a transnacionalização das empresas é uma consequência inevitável. A globalização gera grandes organizações ou sistemas empresariais supranacionais. Mas a eliminação do empresário nacional é evitável, desde que esteja preparado para jogar dentro da nova regra. Qual? Estar "linkado" a um sistema empresarial transnacional.
Essa integração pode ser por meio de uma franquia de transnacionais, como a McDonald's ou Blockbuster, da associação minoritária com uma transnacional, de ser uma terceira parte independente de um sistema empresarial transnacional -como as empresas brasileiras que participam do consórcio modular da Volkswagen- ou de transformar-se numa empresa transnacional.
Em 1993, uma força-tarefa de empresários dentro do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) propôs um projeto nacional, que tinha como um dos pontos básicos a busca pelas empresas brasileiras do mercado mundial, transformando-se em empresas multinacionais (denominação ainda predominante na época).
Essa proposição não obteve consenso na época. Alguns dos associados da entidade buscaram se expandir no mundo, outros estão dentro da lista das "vítimas" da desnacionalização.
Ser um franqueado ou um terceiro são formas de sobrevivência ou desenvolvimento do empresário nacional, mas dependente.
O recente episódio da aquisição pela McDonald's International das ações de Gregory Ryan é bem elucidativo. Quando a transnacional amadurece no mercado, tende a assumir o controle direto.
Para o empresário nacional tornar-se um empresário transnacional, além de ter capital e vontade, é preciso deter algum domínio de tecnologia própria e investir no exterior.
Mas também é preciso o apoio do Estado e da sociedade civil. Esta ainda está seduzida pelos ganhos da abertura, da modernização do consumo, da facilidade de acesso às viagens ao exterior, ou seja, da perspectiva da globalização como consumidor. Mas lentamente começa a perceber -tardiamente, mas ainda oportunamente- que existe o reverso da medalha e que é preciso ser global também como produtor.
Os empresários brasileiros da sociedade pós-industrial ou da Terceira Revolução Industrial precisam se congregar para uma integração na globalização comandante e não subserviente.
A sociedade civil precisa perceber que investir na produção no exterior não é apenas uma forma de exportação de capital e de geração de empregos lá fora e não aqui, mas um mecanismo inevitável de fortalecimento das empresas de origem brasileira e da própria economia brasileira.
Os que hoje se maravilham com os produtos da Hyundai, Samsung, Daewoo e Asia Motors voltem no tempo para comparar o que era o Brasil e a Coréia do Sul nos anos 60. E hoje, quantas marcas brasileiras são vendidas em Seul, em contrapartida às coreanas que compramos em São Paulo?
O que é preciso fazer não é difícil de saber: investir no exterior, associando-se a empresas locais ou mesmo comprando o controle. Para isso, o apoio estatal é essencial, porque o Estado brasileiro tem o controle das reservas cambiais e comanda os grandes fundos de financiamento, como o BNDES.
Além de (ou em vez de) financiar empresas estrangeiras para adquirir o controle de empresas brasileiras (ainda que indiretamente), ele deveria financiar empresas brasileiras para adquirir o controle de estrangeiras.
Perdemos alguns "ônibus da história", mas ainda vão passar muitos. Não podemos ficar contemplativos, vendo a banda passar. Urge estabelecer um programa de transnacionalização da empresa brasileira, dentro do tema de São Paulo: "Non ducor duco" ("Não sou conduzido, conduzo").

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