São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996 |
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'Fargo' é tratado sobre imbecilidade
CÁSSIO STARLING CARLOS
Por mais desagradável que seja em vários momentos, "Fargo" é de fato uma grande comédia. Da comédia clássica utiliza em particular uma fórmula narrativa fundada no princípio do equívoco. Desde a primeira cena, a disjunção é a regra. A paisagem desértica e o carro que avança sob uma música tonitruante levam a entender que se vai assistir a um épico. Que nada. O heróico está longe de poder se encarnar no bando de desqualificados que por aqui transitam -um marido que quer eliminar a mulher e dois assassinos profissionais atrapalhados. A sátira culmina com a aparição de Margie, uma policial grávida que vai solucionar o mistério dos cadáveres amontoados num lugar-nenhum da "deep" América. Outro sinal dessa disjunção é o truque usado pelos Coen que serve para desorientar o processo de identificação do espectador, que, em uma cena de sequestro, é posto na incômoda posição de torcer pelos bandidos e desejar a eliminação da vítima. Esse tipo de humor negro adotado pelos Coen faz com que se questione o tipo de moral que emana de "Fargo". O espetáculo de sanguinolência oferecido em algumas sequências não seria uma satisfação aos baixos instintos de platéias sedentas por violência? Ora, é aí que se configura a superioridade intelectual dos Coen frente à violência "legal" de filmes como os de Tarantino. Para os Coen não há nada de fascinante em indivíduos guiados pela lógica da brutalidade, do tipo "se alguém se interpõe em seu caminho, elimine-o". Para eles, essa é a "lógica" dos imbecis. Filme: Fargo Direção: Joel Coen Com: Frances McDormand e Steve Buscemi Lançamento: Top Tape (tel. 011/826-3066) Texto Anterior: Os mais retirados Próximo Texto: Pouco se salva em "O Guarani" Índice |
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