São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 1996
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Weffort e a Florentina

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Tom Jobim, como se sabe, é um virtuose da canção popular. Um gênio que sobrevive à morte. Um talento reconhecido aqui e alhures.
Chama-se BMI a maior sociedade de arrecadação de direitos autorais dos Estados Unidos. Recolhe direitos de execução em todo o mundo, excluída a América Latina.
Tom era filiado à BMI. E amealhou recordes de tombar o queixo. Sete de suas músicas superaram a marca de 1 milhão de execuções.
Uma delas, "Garota de Ipanema", roçou o topo do ranking. Há cerca de seis anos, com mais de 4 milhões de execuções, foi a segunda da lista.
Tom é, por assim dizer, a síntese de um fenômeno maior: o êxito da música popular produzida sob o sol deste país inzoneiro, deste Brasil de Pixinguinha, de Noel, de Ernesto Nazareth, de Chico, de Caetano, de...
A música brasileira está entre as melhores do mundo, eis uma dessas verdades incontestes, por todos reconhecida. E por que se está gastando aqui papel e tinta para proclamar o óbvio?
Descobriu-se na semana passada que o ministro Francisco Weffort (Cultura) quer baixar uma lei de proteção à música brasileira. A idéia não é apenas ridícula. É também ofensiva.
Não se oferece proteção senão àqueles que não têm competência para se defender por conta própria. Mal comparando, é como se Bill Clinton resolvesse editar uma lei de proteção a Evander Holyfield.
Assim como Holyfield, o boxeador que surrou Mike Tyson, também a música brasileira dispensa protetores. Exibe vistosa musculatura. Responde por 70% da programação das rádios.
De resto, a movimentação de Weffort não combina com o ritmo liberalista que embala o resto do governo. O país importa de tudo -de brinquedos a patês, de automóveis a bicicletas. É tolice tentar impor limites à veiculação de música estrangeira. A menos que Weffort prefira ouvir pérolas como "Florentina" a preciosidades como "Night and Day".

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