São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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Médico do Paraná sonha com o Nobel

Ele inventou técnica de cirurgia cardíaca

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINA GRANDE DO SUL

A idéia simples de retirar um naco de carne de corações inchados e doentes está levando um cirurgião mineiro radicado em Curitiba (PR) a sonhar com o Nobel de medicina. O médico, Randas Vilela Batista, 49, é o inventor da "ventriculectomia".
Ao reduzir o tamanho do ventrículo esquerdo com um corte que pode parecer grosseiro, a operação permite que o músculo volte a bombear maior quantidade de sangue. O procedimento ficou conhecido como "Batista operation".
Mais de 700 pessoas, muitas em estado terminal, já passaram por essa cirurgia no Brasil e em 20 centros no exterior; 430 operações foram feitas em Curitiba. Em dois anos, a sobrevivência tem sido de 60%.
Batista apelidou o procedimento de cirurgia do "nhaco", como dizem os mineiros quando vão ao açougue e pedem um naco de carne.
"É uma operação simples que em dois anos estará sendo feita em todos os centros cirúrgicos do mundo", diz Batista. A notícia é alentadora para milhares de doentes que até agora só têm o caminho do transplante. Um terço deles acaba morrendo na fila.
Um transplante de coração custa entre R$ 60 mil e R$ 80 mil, quatro vezes mais que a cirurgia.
"Estamos sendo indicados para o prêmio Nobel por equipes dos EUA e da Europa", afirma Batista. Prudentemente, a academia sueca costuma acompanhar um procedimento por cinco anos antes de premiá-lo. Batista ainda tem três anos pela frente.
Médicos de centros renomados -como Cleveland, Boston e Nova York- consideram que o feito do brasileiro pode ser o maior avanço da cirurgia cardíaca dos últimos 30 anos.
A equipe de Houston (EUA), que trata de Boris Ieltsin, chegou a consultar Batista sobre a cirurgia do presidente russo.
A técnica do "naco" transformou o brasileiro no mais badalado cirurgião da atualidade. Em outubro, ele passou 25 dias viajando. Na semana passada, voltou a operar na Europa e EUA.
A fama do médico converteu o pequeno hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul -região metropolitana de Curitiba-, numa espécie de Meca da cirurgia cardíaca.
É lá que Batista opera há oito anos e foi lá que fez a primeira "cirurgia do naco" dois anos atrás. Nas paredes de sua sala apertada estão 72 fotos onde aparece com mais de 50 cirurgiões de dezenas de países. Todos estiveram ali aprendendo a técnica.
"Não cobro nada e não escondo a cirurgia de ninguém", afirma. "Mas faço questão que a autoria da técnica seja atribuída à minha equipe."
Quando está em Curitiba, Batista passa o dia operando e atendendo chamadas internacionais.
À noite, na casa confortável em que mora com a mulher e quatro filhos, ele chega a receber dez ligações internacionais nos seus dois celulares.

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