São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Batista é considerado genial

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL

Randas Batista é visto como um tipo excêntrico, bem-humorado e genial. Quando não está viajando, almoça no próprio hospital ao lado de funcionários.
Só tira o uniforme azul do centro cirúrgico quando vai dormir. Vai com ele ao banco e até a jantares fora com a família.
No intervalo entre as cirurgias, corre para sua chácara onde cria gado e cavalos da raça crioulo. "Minha criatividade está lá", diz, enquanto dirige um jipe importado.
Randas acredita que 90% do cérebro só funcionam quando a pessoa consegue desligar-se de suas preocupações. "Eu faço uma pergunta ao cérebro e vou regar as plantas, arar a terra ou andar a cavalo. Nesse tempo, a parte inconsciente do cérebro me dá a resposta."
Foi assim -segundo ele- que surgiu a idéia da cirurgia do "naco". "Era muito simples: em vez de aumentar a oferta de sangue, eu reduzi a demanda do coração. Foi cortar um pedaço fora e costurar." Foi regando plantas -segundo ele- que teriam se aclarado outras idéias que colocou em prática nos últimos anos.
No final da tarde de segunda-feira passada, Batista regava as plantas apesar de ter chovido na véspera. Vestia o uniforme do centro cirúrgico e tinha a máscara pendurada no pescoço. Tomou uma latinha de cerveja enquanto decidia com o capataz o que faria com o pasto e os bezerros novos.
Foi de sua chácara que saíram os 30 carneiros submetidos à "cirurgia do naco" antes que Batista experimentasse a técnica no caminhoneiro Rogério Mocelim, em 94. Os carneiros que morriam viravam churrasco.
Batista acredita que as pessoas não devem se contentar com o que está estabelecido. "Quem pensa que algo é impossível, atrapalha quem já está realizando", diz uma frase pendurada em sua sala. Outra afirma: "Não existe resposta sem pergunta."
O cirurgião conservou a simplicidade mineira, mas sabe bem a estrela que virou. Às vezes irrita-se com seus auxiliares. "Parece que nunca trabalhou comigo", grita para as instrumentadoras.
Antes da operação, o paciente é preparado e tem o peito aberto por cirurgiões de sua equipe. Batista já encontra o coração exposto e em meia hora completa a cirurgia.
(AB)

Texto Anterior: Médico do Paraná sonha com o Nobel
Próximo Texto: Pacientes têm vida normal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.