São Paulo, quarta-feira, 13 de novembro de 1996
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À MEIA-VOZ

LUIZ CAVERSAN
DIRETOR DA SUCURSAL DO RIO

Quando preparava o show que acompanharia seu disco "Abrigo", lançado no ano passado, a cantora e compositora Marina Lima viu um muro intransponível surgir à sua frente: um problema nas cordas vocais simplesmente tirou sua voz e a impediu de cantar.
Àquela altura, já tinham transcorrido 40 dias de ensaios com a banda de oito músicos e o show estava pronto para percorrer o país. Diante do infortúnio, porém, surgiu a luz: o trabalho desenvolvido até então era praticamente a pré-produção de um novo disco.
Em vez de aeroportos, corre-corre de uma cidade para outra, muitos palcos e o calor dos fãs, o que rolou foi tratamento à base de acupuntura para a garganta e o aprimoramento daquele novo trabalho em estúdio.
O resultado desse esforço chega a público agora, com o sugestivo nome de "Registros à Meia-Voz".
"Eu gosto demais de música e queria registrar aquele trabalho todo. Não poderia deixar se perder o que tinha sido elaborado para o show", diz.
O CD, primorosamente embalado em projeto gráfico do designer Giovanni Bianco, é o último de seu contrato com a gravadora EMI. "Posso até renovar o contrato, mas com esse trabalho fecho um ciclo. Se houver um próximo disco será como começar de novo."
Marina afirma que uma forte característica desse conjunto de dez músicas reside no fato de ele ter sido concebido no trabalho com oito músicos. "Normalmente isso não ocorre. São no máximo dois músicos quando se planeja um disco na gravadora. Por isso a sonoridade está muito mais rica."
Se o disco anterior era o que se convencionou chamar de "de intérprete" (só cantava músicas de outros compositores), o atual é sobretudo autoral.
Não apenas por suas composições, retomando profícua parceria com o irmão Antônio Cícero, mas pelo trabalho de estúdio, principalmente com os arranjos, a concepção instrumental das canções.
"Fazer arranjo, para mim, é questão de conceito. A relação com o arranjo é essencial. Tenho que dar continuidade ao que plantei. É como se fosse uma estilista."
Virginiana e certamente centralizadora, Marina persegue -e desfruta- o que chama de "prazer do perfeccionismo". E quer sempre que, em sua forma final, uma canção seja "a tradução completa" de sua personalidade.
"É por isso que estudo muito, tenho aulas direto, para não deixar de aprender. Além de tudo, os músicos respeitam mais."
Na verdade, Marina está curtindo o gostinho de exercitar a fórmula do prazer compor-tocar-cantar. E ela diz por quê: "No disco anterior, me senti descampada. Fiquei louca para voltar a compor, aflita para recuperar a minha identidade. Naquele instante senti compaixão das cantoras..."
Dentro desse momento de prazer comedido e que pode significar o recomeço para Marina, a cantora frui particularmente a retomada da parceria com o irmão.
"Inverti a nossa fórmula de compor, que era sempre ele colocando letras nas minhas músicas."
A música que abre o disco, o rock "À Meia-Voz", por exemplo, começou a ser escrita por Marina, inspirada no irmão, que a terminou (leia mais no texto abaixo).
Mas há também espaço, neste CD, para outras relações. "A Tempestade", poema de Zélia Duncan, é um dos destaques, apesar de ter aparecido, quase como vinheta, no disco anterior de Marina.
Agora ela está inteira, com toda sua coloração social. Além do que é um exemplo da atenção que Marina dedica aos compositores de que gosta. "Na verdade gostaria de eu ter composto essa música. Mas é um pouco minha, porque a Zélia fez, eu canto e com isso toco um pouco na alma de quem ouve."

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