São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 1996
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Dívidas e dúvidas

JUCA KFOURI

Não é só o Banco Central que está passando um pente fino nas transações dos nossos clubes com o exterior. O governo federal está levantando o tamanho das dívidas que esses têm com a Receita.
Dos 24 clubes da primeira divisão, 16 já foram devidamente avaliados e devem a bagatela de R$ 21 milhões. Dessa dívida, R$ 16 milhões são devidos só de Imposto de Renda retido na fonte, o que dá a medida da irresponsabilidade, para dizer o mínimo.
Em dois clubes não foi encontrado nada, em dois outros apenas pequenas dívidas, em quatro há dívidas médias e em oito a situação é bastante difícil.
Desnecessário será dizer que entre esses últimos está o mais popular de todos, o Flamengo.
Em bom português, o governo dá sinais de estar querendo desembarcar do futebol, deixando de subsidiar a incompetência e a corrupção.
Para tanto, é claro, haverá de cobrar o que lhe devem e não parece disposto a dar ouvido ao lengalenga de sempre, ou seja, que os clubes têm um papel social que caberia ao Estado desempenhar em relação aos esportes olímpicos e por aí afora.
O Estado, no caso, precisa é de tratar de retomar o espírito inicial da Lei Zico, obrigar os clubes a se transformarem em empresas e, assim, estabelecer o primado da competência.
Porque os homens que dirigem (?) nossos clubes hoje não querem mudar nada.
Se quisessem, já teriam montado a Liga Nacional, em vez de votar em quem votam na CBF.
Ou você tem dúvida, caro leitor, que uma Liga Nacional só pode nascer para valer se for contra o que está aí?
O tempo de conciliar já passou faz tempo, e Ricardo Teixeira perdeu o bonde.
Obcecado em explorar a galinha dos ovos de ouro chamada seleção brasileira, ele esqueceu que o fundamental se chama clube. E se perdeu até em manobras absolutamente burras, como a de montar um tribunal de justiça que adia, dois dias depois do que houve nas Laranjeiras, o julgamento dos cartolas invasores do Maracanã. Ou seja, nem sequer senso de oportunidade ele tem.
Mas como é apenas o sub-chefe da turma (o chefão está na Fifa), só resta ao Estado acabar com a brincadeira, até porque a necessária reforma da entidade mundial, que não por acaso mora na Suíça, extrapola as fronteiras nacionais.
É briga grande, mas necessária. E urgente.

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