São Paulo, sábado, 16 de novembro de 1996
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Chomsky chega ao Brasil para palestras

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Nos Estados Unidos, seu nome é vetado em alguns órgãos de imprensa e, apesar de tratarem de linguística e política, seus livros podem ser encontrados na seção de cultura pop de certas livrarias.
O linguista Noam Chomsky, 68, que chega domingo ao Brasil para uma série de palestras, acha que isso faz sentido. "Afinal, sou um dissidente radical, de correntes libertárias", afirmou à Folha em julho, de Nova York. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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Folha - O sr. se diz anarquista libertário. Qual é a posição de um intelectual de esquerda hoje?
Noam Chomsky - A mesma de sempre. Identificar os sistemas de dominação e autoridade e, se eles forem ilegítimos, trabalhar contra eles. Pelo menos, é o que deve fazer quem eu chamo de esquerda autêntica. A União Soviética, na minha opinião, foi a estrutura socialista mais reacionária do mundo moderno. Muitas pessoas chamavam de esquerda, mais digo que se trata de extrema direita.
Folha - Como o sr. avalia os intelectuais norte-americanos hoje?
Chomksy - É preciso lembrar que, em qualquer sociedade, os intelectuais respeitados, com privilégios, são aqueles que apóiam os sistemas de poder. Nos EUA também é assim, os intelectuais que são reconhecidos e recompensados servem aos interesses do poder. Há também um setor de intelectuais dissidentes voltados às questões populares.
Folha - O sr. se enquadra na segunda categoria? Como lida com o fato de não ser popular nos EUA?
Chomsky - Qualquer um que consegue olhar para o sistema de injustiça, opressão e autoridade ilegítima ao nosso redor e não se opõe não é um ser humano moral.
Se me tornasse popular nos EUA, começaria a achar que estou fazendo algo errado. Você não espera que as pessoas se tornem populares dentro de instituições que eles estão tentando sabotar.
Folha - Em Nova York, é possível encontrar vários livros seus e sobre o sr. na seção de cultura pop...
Chomksy - Cultura pop é um termo engraçado, mas a cultura popular como um todo, aquela em que a maioria das pessoas está envolvida, não é a cultura intelectual. Afinal, sou um dissidente radical, de corrente libertária; então, faz sentido meus livros estarem lá.
Folha - O sr. disse certa vez que a propaganda é para a democracia o que a violência é para os regimes totalitários.
Chomksy - Em geral, é verdade que o papel da propaganda aumentou na medida em que as sociedade se tornaram mais livres e democráticas. Os Estados Unidos são um caso dramático disso. Há uma estrutura de poder altamente centralizada e, se você não pode controlar as pessoas pela força, tem que fazê-lo de outra maneira, com publicidade, entretenimento, imprensa e propaganda.
Folha - Qual sua opinião sobre o terrorismo nos EUA?
Chomksy - Nos EUA, o conceito terrorismo é restrito à atividade de um indivíduo ou um grupo marginal, apoiado por Estados inimigos. Mas os norte-americanos se recusam a usar o termo quando essas atividades são conduzidas por instituições poderosas das quais eles fazem parte. Você espera isso de um regime totalitário, mas não de uma sociedade livre.

Palestras de Noam Chomsky no Brasil: Rio de Janeiro - 18/11, às 14h, na Faculdade de Letras da UFRJ, e 19/11, às 14h, no COPPE da UFRJ; São Paulo - 21/11, às 19h30, no Masp (aberta ao público), 22/11, às 10h e às 15h, no auditório da FAU, na USP; Brasília - 25/11, às 10h30 e 18h, no Departamento de Linguística da UnB, 26/11, às 10h30 e 18h, na UnB; Belém - 29/11, às 16h, no auditório da Biblioteca Central da UF Alagoas, e 30/11, às 11h, na UF Alagoas.

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