São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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EUA reestudam veto de visto a garoto

DA SUCURSAL DO RIO

O cônsul-geral adjunto do Consulado dos EUA no Rio, Robert Taylor, prometeu ontem reestudar o caso do menino Carlos Alexandre Rossi, 6, que teve o pedido de visto de viagem negado. Para os pais de Rossi, o visto foi negado por ele ser mulato.
Filho do fiscal de renda Luiz Carlos Rossi, 48, que é branco, e da dona-de-casa Mônica Cristina Vieira de Carvalho Rossi, que é negra, o menino viajaria em janeiro para Orlando, na Flórida, para fazer um curso intensivo de inglês.
O consulado nega a versão dos pais do garoto. Taylor disse que os pais não informaram ao consulado que Carlos Alexandre viajaria para fazer um curso de inglês, mas para fazer turismo. Taylor negou ainda que Rossi tenha apresentado a documentação sobre o curso.
Ele estuda inglês há três anos no Dice English Course, na Lagoa (zona sul do Rio). A escola havia programado um curso intensivo em Orlando com 19 crianças, de 6 a 12 anos, ao preço de US$ 3 mil.
Segundo o diretor administrativo do curso, Ricardo de Oliveira Lima, 43, das 19 crianças, cerca de 7 ainda não tinham visto. Com exceção de Carlos Alexandre, todas conseguiram o visto.
A recusa do visto mobilizou militantes do movimento negro, como o ex-deputado federal Carlos Alberto Oliveira e o secretário-executivo do Ceap (Centro de Articulação de Populações Marginalizadas), Ivanir dos Santos.
Um grupo de militantes foi recebido ontem à tarde pelo cônsul Taylor, que é negro. Taylor negou qualquer "discriminação racial" por parte do consulado e afirmou que em uma semana responderia se o visto seria concedido ou não.
Rossi disse que o visto de seu filho foi negado duas vezes, em 9 e 29 de outubro. Na primeira vez, segundo ele, uma senhora "muito grossa" disse que a mãe de Carlos Alexandre teria de ir ao consulado.
Rossi afirmou que voltou com a mulher no dia 29, sendo recebido por um cônsul. Já com "a pulga atrás da orelha", o fiscal diz que apresentou no consulado documentos comprovando que o filho iria viajar para estudar inglês.
Dessa documentação faria parte uma carta do Florida Department of Education (Departamento de Educação da Flórida), confirmando o curso em janeiro. O visto, porém, foi novamente negado.
Um documento entregue a Rossi diz que o menino não conseguiu provar que possuía laços que o fizessem "retornar ao Brasil". Taylor disse ser comuns casos de imigração ilegal em que crianças vão para os EUA morar com parentes.
"Foi humilhante. Não faz sentido que, em um grupo de estudantes, só um tenha o visto negado. Foi só porque meu filho é mestiço", disse Rossi.

Excepcionalmente hoje não é publicada a coluna de Marilene Felinto

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