São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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BB realiza intervenção "branca" na Encol

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

A Encol, maior construtora de imóveis residenciais do país, está sob uma espécie de intervenção "branca" (não oficial) do BB (Banco do Brasil).
No final de outubro, o BB indicou Antonio Alberto Mazali, funcionário de carreira aposentado do banco, para cuidar das finanças da empresa. A Encol aceitou.
A admissão do executivo foi a primeira condição imposta pelo banco para negociar a concessão de um empréstimo de R$ 50 milhões para a construtora.
A empresa deve R$ 500 milhões no mercado e não tem recursos de curto prazo para tocar a construção dos 601 empreendimentos que já lançou, mas não concluiu. O BB já é o maior credor da empresa, no valor de R$ 75 milhões.
A admissão de Mazali, que está na empresa há cerca de um mês, não foi a única mudança na Encol. Os diretores Luís Henrique Ceotto e Rogério Dalt deixaram a construtora agora em novembro.
Novo presidente
O empréstimo que está sendo negociado com o BB equivale às necessidades de curto prazo da Encol, e poderia colocar em dia o ritmo de suas construções, atrasadas desde o ano passado.
Por exigência do BB, um eventual acordo envolveria ainda a nomeação de um profissional do mercado para assumir o cargo de presidente executivo da Encol. Pedro Paulo de Souza, fundador da empresa e seu atual presidente, assumiria o cargo de presidente do conselho de administração.
O empréstimo do BB seria parte de um acordo mais amplo, que deve prever a transformação, em títulos, de parte das prestações que a Encol tem a receber de clientes.
Esses títulos comporiam o capital de uma nova empresa -Companhia de Propósitos Específicos (CPE)-, da qual o BB seria controlador. A Encol passaria a ser uma mera prestadora de serviços da CPE, concluindo a construção dos empreendimentos já lançados.
Na venda dos imóveis, o BB receberia seu crédito. A diferença (se houver) iria para a Encol.
A assessoria de imprensa do BB confirmou que está negociando com a Encol, mas informou que "não seria prudente" conversar sobre os termos do acordo antes de sua conclusão.
A Encol propôs esse acordo a todos os bancos credores. No entanto, as negociações prosperaram apenas junto ao BB.
O Itaú e o BCN estudam outra forma de solução para as dívidas. O Itaú fechou recentemente com a Encol e compradores um acordo dentro do plano condomínio.
O plano prevê o financiamento direto do banco aos compradores. A Encol é contratada para realizar a obra. E o banco fiscaliza.
A Encol anunciou o acordo com o Itaú como o início da reestruturação da empresa. Outros 154 contratos similares estão sendo estudados, mas sem muito ânimo -eles dependem da concordância de todos os condôminos do empreendimento.
O Banespa, segundo maior credor (R$ 73 milhões), está cobrando a Encol na Justiça.
"O acerto proposto pela Encol envolve a concessão de dinheiro novo. O Banespa não está em condições de dar empréstimos. Nossa prioridade é receber, não emprestar", informou a assessoria de imprensa da instituição. O Banespa completa em dezembro de 1996 dois anos sob o Regime de Administração Especial Temporária.
Início dos problemas
Os problemas financeiros da Encol vieram a público em maio de 1995, quando a empresa renegociou parte de sua dívida com o BB, que estava em R$ 106 milhões.
A operação de renegociação envolveu uma articulação entre o BB e a Funcef (Fundo de Pensão da Caixa Econômica Federal), que comprou da Encol, por R$ 55 milhões, parte das ações do Hotel Renaissanse, em São Paulo.
Simultaneamente, consumidores da Encol passaram a mover ações contra a empresa na Justiça, alegando que quitaram seus imóveis, mas não receberam a escritura definitiva. Os clientes alegam que a Encol deu seus imóveis em garantia dos empréstimos que obteve no mercado.

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