São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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Investimento e emprego

SHEILA NAJBERG

Novos investimentos criam postos de trabalho. Esses empregos não se concentram exclusivamente nos setores em que ocorre o investimento. A implantação de uma empresa, em geral, requer a construção de instalações e a compra de máquinas e equipamentos. Como consequência, antes mesmo que a nova unidade entre em operação, os setores de construção civil e de bens de capital irão demandar mão-de-obra.
Adicionalmente, todas as atividades que compõem a cadeia produtiva dos setores que produzem os bens de investimento também demandarão trabalho. Por exemplo, para que produza uma máquina é necessária a compra de insumos metalúrgicos. Para a fabricação de insumos metalúrgicos é necessária a expansão da mineração.
Assim, todo investimento assegura, já no curto prazo, a ocupação de trabalhadores nos setores que produzem bens de capital (empregos diretos) e nas atividades que são fundamentais à produção desses bens (empregos indiretos). Com a conclusão dos investimentos, já num segundo momento, haverá a criação de novos postos de trabalho nas empresas que realizaram as inversões (empregos diretos). Repete-se, então, a lógica anterior, com relação aos empregos indiretos.
No entanto, não seria correto considerar apenas a demanda por emprego direto e indireto. Sabe-se que a todo crescimento de produção está associado um aumento na renda, seja dos trabalhadores, seja dos empresários. Parcela desta renda se transforma em consumo, induzindo assim uma expansão ainda maior na produção, agora nos setores de bens de consumo (vestuário, calçados, alimentos etc.) e serviços (saúde, educação etc.), com impactos positivos no nível de emprego.
Obviamente, as atividades que compõem a estrutura produtiva dos bens de consumo e serviços também terão incentivo para aumentar a produção e, possivelmente, contratar mão-de-obra adicional. É esse efeito que chamamos de efeito renda do investimento.
Com o objetivo de quantificar a demanda por trabalho que pode ser criada, no curto e médio prazo, como resultado de aumentos nos investimentos nos diversos setores da economia brasileira, foi desenvolvido pelo Departamento Econômico do BNDES um modelo que utiliza as relações técnicas da matriz insumo-produto, elaborada pelo IBGE, para calcular o número total de empregos diretos, indiretos e os devidos ao efeito renda.
O modelo, antes de ser utilizado pelo BNDES, foi exaustivamente discutido em diversos centros acadêmicos e institutos de pesquisa, o que contribuiu substantivamente para seu aperfeiçoamento.
O modelo calcula a quantidade total de trabalhadores que serão ocupados, ao longo do tempo, com a realização dos investimentos. É importante entender que os trabalhadores empregados por conta de um novo investimento podiam já estar ocupados antes. Ou seja, uma parte dos empregos corresponde à criação de novos postos de trabalho, e outra, à manutenção de empregos que, de outra forma, tenderiam a aumentar o contingente de desempregados na economia.
Na ausência de novos investimentos, sem dúvida alguma, seria observada uma queda no nível atual de emprego. Por exemplo, uma redução na demanda por obras implicaria a demissão de parte dos trabalhadores previamente contratados. A manutenção do nível dos investimentos, no mínimo, assegura a manutenção do nível de emprego. E a expansão das inversões leva à geração de novos empregos.
O crescimento nos financiamentos do BNDES, bem como a criação de uma série de novos programas do governo, em conjunto com o esforço privado de inversão, garantem o crescimento real nos investimentos, com reflexos positivos no nível de emprego. E é nesse contexto que os resultados do modelo devem ser analisados.
Apesar do rigor científico, como em todo modelo, foram feitas algumas hipóteses simplificadoras. No entanto, espera-se que, com o tempo, comparando-se os resultados do modelo com dados coletados oficialmente, possa-se refinar algumas das premissas adotadas, tornando seus resultados ainda mais precisos.

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