São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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RC, Chilavert em Minas e o Maquiavel do fut

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, a execução de um escanteio tornou-se um lance burocratizado no futebol.
Em geral, é uma jogada esquematizada e treinada à exaustão pelos sistemas defensivos e ofensivos.
O posicionamento de cada jogador do time que defende (debaixo das traves, dentro das pequenas e grandes áreas) é calibrado milimetricamente.
Quando o time com o escanteio a seu favor tem a sorte de contar com um executor habilidoso (caso do Marcelinho, do Corinthians, por exemplo), o torcedor pode ver uma jogada menos burocratizada.
Os europeus, por seu turno, têm aquele péssimo hábito de dar um toquinho para trás, fazendo o cruzamento para a área em dois tempos.
No domingo, na bela Sevilha cantada por João Cabral de Melo Neto, por volta dos 15 minutos do segundo tempo, no estádio Sanchez Pizjuan, Roberto "Eu Sou Terrível" Carlos prepara-se para cobrar um escanteio para o Real Madrid.
RC ergue a cabeça e vê, em um vacilo de posicionamento da defesa do Sevilha, agora do Bebeto, um companheiro livre, colocado a dois metros da linha de pequena área, na altura do segundo pau da meta do goleiro sevilhano.
RC coloca a bola, massa informe em vôo retorcido, lembrando uma figura do pintor inglês Francis Bacon, na medida para o belo sem pulo do perigoso montenegrino Pedraj Mijatovic anotar o terceiro gol do Real Madrid.
Taí, Roberto Carlos mostrou o quão valioso é para o futebol a visão de jogo e a utilidade irrecusável de jogadores que possam improvisar, acima do lugar comum dos esquemas.
Até em um simples escanteio.
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No mesmo estádio, na Andaluzia (bate a vontade de sair cantando "Anda, Luzia, pega o pandeiro e vem pro Carnaval/ Anda, Luzia, que esta tristeza te faz muito mal... que a vida dura só um dia, Luzia/ E não se leva nada deste mundo"), o croata Davor Suker, outro perigoso avante do Real Madrid, não comemorou o seu gol, o segundo do jogo.
Motivo: sinal de respeito aos torcedores do Sevilha que, durante anos, apostaram suas fichas e paixões em Suker.
Um gesto belíssimo de respeito ao torcedor e ao futebol.
Já, por aqui, quando o Ricardo Pinto voltou às Laranjeiras a gente viu o que aconteceu.
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Entre outras atrações, amanhã tem o goleiro Chilavert, o terrível, no Mineirão.
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A grande polêmica no México é se a seleção do país de Diego Rivera deu um vexame histórico ao perder de 1 a 0 da Jamaica (como Bob Marley não morreu, ele deve estar felicíssimo), ou se a derrota foi intencional, para evitar enfrentar Honduras na próxima fase das eliminatórias para a Copa 98.
Pois bem, conhecendo a matreirice do Bora Milutinovic (hoje a coluna anda meio balcânica), um especialista em Copas do Mundo, não dá para não dar certa trela para a segunda versão, a cantinfliana.
Se foi astúcia e não incompetência, Bora, o técnico mexicano, faz jus ao apodo de "o Maquiavel do futebol".

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