São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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Estranhos campeões

JUCA KFOURI

Há algo estranho em torno dos nossos campeões mundiais nos Estados Unidos.
Eles não têm a auréola que caracterizava aqueles das campanhas passadas na Suécia, no Chile e no México.
Não há um Gilmar, um Djalma Santos, um Carlos Alberto, Bellini, Mauro, Brito, Orlando, Zózimo, Piazza, Nílton Santos, Everaldo, Zito, Clodoaldo, Didi, Gérson, Garrincha, Jairzinho, Vavá, Tostão, Pelé, Amarildo, Rivelino.
Nenhum dos jogadores de 1994 tem o respeito da torcida semelhante aos citados, nenhum é olhado com reverência. Por quê?
Que me desculpem todos, mas nossos mais recentes vencedores são como foram De Sordi, Zagallo, Félix, coadjuvantes, nada mais.
Ninguém olha para Taffarel como um Deus.
Romário, que tinha tudo para ser visto como tal, acabou se desgastando tanto que é objeto de piadas, algo impensável em torno de um Tostão.
Bebeto, então, nem se fala. Virou o chorão.
E assim por diante.
Não se tem saudades de Jorginho, todos temem Aldair e Márcio Santos, Branco foi mandado embora da Inglaterra, e Leonardo, que é brilhante, ficou manchado pela cotovelada.
Raí não se deu bem na Copa, Zinho era a enceradeira, Mazinho nem por isso. E Mauro Silva acaba de ser submetido a uma humilhação sem igual pela ranhetice do treinador.
Será que não se fazem mais campeões como antigamente?
Talvez só o capitão Dunga tenha sobrado, cada vez mais símbolo daquela pragmática conquista, embora deixado de lado até mesmo na disputa da medalha em Atlanta.
Mas, curtindo um exílio dourado no Japão, o seu gesto levantando a taça e xingando os jornalistas parece imortalizado.
Ou será que o que mudou foi o jeito de olhar para os campeões?
Antes inatingíveis porque vistos com a admiração de criança ou de jovem começando a carreira?
Agora seriam simples mortais ou meros produtos rapidamente consumíveis?
Ou será que a vida já andada não permite mais certas idolatrias?
Alguma coisa deve estar errada.
Porque ídolos como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Hortência, Oscar, só para citar os mais notórios, continuam a ser olhados como acima do bem e do mal e merecedores de todo o respeito do mundo.

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