São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996
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Maguy Marin estréia hoje em Paris

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estréia hoje em Paris o novo espetáculo da coreógrafa Maguy Marin, uma das mais importantes autoras da dança contemporânea.
Pela primeira vez, Marin divide um espetáculo com um dos bailarinos de seu grupo. O chileno Ulises Alvarez assina "Un", que compõe o primeiro ato. "Aujourd'hui Peut-être", de Marin, é dançado em seguida.
A última vez que Marin e seu grupo se apresentaram no Brasil foi em 1994, com o espetáculo "Waterzooi", durante o Festival Internacional de Artes Cênicas.
Depois de "Waterzooi", criou "RamDam", para em seguida mergulhar em "Aujourd'hui Peut-être", cujo ponto de partida foi "O Livro da Intranquilidade", do português Fernando Pessoa.
"As duas peças do atual programa não foram concebidas em conjunto", disse Alvarez à Folha. "Mas, como trabalho com Maguy há dez anos, há entre nós um acordo inconsciente, uma sintonia que não depende de combinações."
Em vez de Fernando Pessoa, Alvarez elegeu como ponto de partida a comunicação como ato cotidiano. "O enfoque são os códigos e mensagens transmitidos de um ser humano para outro", ele diz.
Para Marin, os intérpretes de seu elenco são artistas completos, capazes de dançar, cantar, tocar instrumentos musicais e ainda interpretar textos teatrais.
Tal filosofia vem de sua formação na escola Mudra, fundada por Maurice Béjart em 70, com objetivo de proporcionar a bailarinos gama abrangente de habilidades.
Com o tempo, Marin foi desenvolvendo sua própria linguagem, hoje a mais expressiva da França. Uma de suas obras-primas, "May B", de 81, continua sendo apresentada com grande sucesso.
Na Maison des Arts de Créteil, onde o grupo da coreógrafa está sediado, o novo espetáculo realiza temporada de hoje até 27 de novembro. Em seguida, inicia intensa turnê pela Europa, que prossegue até meados de 97.
Em "Aujourd'hui Peut-être", Marin faz da dança o recurso principal de seu elenco. Agora, os recursos teatrais estão mais tênues.
A música, tocada ao vivo, foi criada em conjunto com a coreografia. "Trabalhamos muito sobre improvisações, sobre ritmos que se combinam de forma complexa", explica o baterista Guigou Chenevier, autor da trilha musical junto com seu grupo, o Volapük.
"Um de nossos enfoques é a elasticidade do tempo, que é explorado em diferentes níveis", acrescenta Chenevier, que, como Marin, adora criar jogos entre palavras e sons.
"A dança é um meio suficiente em si mesmo, como a música ou o teatro. Mas, como intérprete, procuro fundir diversos elementos, como voz, movimento, música. Busco isso por afinidade pessoal", afirma Marin, que, acima de tudo, procura criar uma arte livre, capaz de penetrar na infinidade de facetas da condição humana.
"O artista deve se inscrever dentro de sua época, como testemunha do que acontece à sua volta", justifica.
(AFP)

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