São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 1996 |
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Marcelo Bratke lança CDs em dois recitais
LUIS S. KRAUSZ
Seis músicos rebeldes, agrupados em torno de Jean Cocteau, encantaram-se com a espontaneidade e vitalidade do que era então a música negra e resolveram restituir esses elementos à música erudita, que lhes parecia enrijecida pela solenidade dos conservatórios. Surgia, assim, o Groupe de Six (Grupo dos Seis), formado por Poulenc, Milhaud, Honegger, Durey, Auric e Tailleferre. Juntos, criaram o "Album des Six" (Álbum dos Seis), com uma composição breve de cada um -sempre com títulos tradicionais: "Valse", "Mazurka", "Sarabande", "Romance", "Prélude" e "Pastorale". Marcelo Bratke, 36, pianista brasileiro radicado em Londres, apresenta recital de lançamento da primeira gravação integral deste "Álbum", no teatro de Cultura Artística, no centro de São Paulo, hoje, às 21h. O CD foi recentemente lançado em Londres, pelo selo Olympia, com recital no Wigmore Hall, e traz também uma obra de cada um dos seis, na ordem inversa de sua participação no "Álbum". Diálogo Nas palavras do intérprete, o programa do disco constitui "dois espelhos, um à frente do outro, um círculo sem fim". A crítica inglesa destacou a sobriedade e despojamento de sua técnica e a sensibilidade tonal de sua leitura. Bratke tenta analisar os antagonismos e semelhanças desses compositores, vê-los como um grupo e encontrar seu diálogo: "Eles evocam sátira, o circo e a música das ruas, combinando influências como o jazz e a música pastoral francesa. Mas, ao mesmo tempo, sua música é refinada por causa do politonalismo e atonalismo". Formado pela Juilliard School of Music, Bratke decidiu abandonar o repertório clássico e romântico depois de estudar, no Brasil, com Koellreuter, que o introduziu à composição e à música contemporânea. Desde então, vem se dedicando sobretudo ao repertório do século 20. No próximo domingo, Bratke apresenta, às 17h, no Maksoud Plaza, na Bela Vista, em São Paulo, recital de lançamento de "Brasil", outro CD, também já lançado na Inglaterra pelo mesmo selo, que traz os dez "Tangos", de Ernesto Nazareth, e "Saudades do Brasil", de Darius Milhaud. Carioca Antes de participar do "Groupe des Six", entre 1916 e 1918, Milhaud foi secretário de Paul Claudel, embaixador da França no Rio de Janeiro. Inspirado na música folclórica brasileira e no bucolismo pacífico do estilo de vida dos cariocas de então, ele criou 11 peças breves e despretensiosas, que cruzam, despreocupadamente, as fronteiras entre a música popular e a erudita, e levam títulos como "Sorocaba", "Leme" e "Paissandu". São esboços que evocam uma paisagem e um mundo para sempre distantes, aliando a simplicidade da música popular a características da música erudita contemporânea, como o bitonalismo harmônico e a dissonância. Nazareth Foi o disco "Brasil" que introduziu a música de Ernesto Nazareth na Inglaterra, com sucesso: a Classical FM de Londres escolheu, em 1995, o "Tango Brejeiro" para ser uma das faixas de seu CD anual, Classic Discoveries. Embora profundamente interessado em Chopin, Nazareth tentou, de maneira individual, superar a linguagem da música européia e, com base na música popular, achar novos caminhos. A espontaneidade de suas criações vai ao encontro, justamente, do que buscavam Milhaud e os outros membros do Grupo dos Seis. É dos encontros entre América e Europa que resultam esses dois lançamentos. Concerto: Marcelo Bratke Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 258-3616) Quando: hoje, às 21h Programa: "Album des Six" Ingresso: R$ 10 Onde: teatro Maksoud Plaza (al. Campinas, 150) Quando: 24/11, às 17 h Programa: Caixinha de Música Quebrada, Seis Cirandinhas, Prole do Bebê, de Villa-Lobos; Saudades do Brasil, de Darius Milhaud; Quatro Tangos Brasileiros, de Ernesto Nazareth Ingressos: R$ 6,00 (estudantes) a R$ 20,00 Discos: "Groupe des Six" e "Brasil" Lançamento: Olympia Preço: R$ 17, em média Texto Anterior: Diversas formas de assassinar um obelisco Próximo Texto: Grega exibe ecletismo no Olympia Índice |
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