São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cesp está pronta para venda, diz governo

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em janeiro do ano passado, a gigantesca Cesp (Companhia Energética de São Paulo) iniciou uma revolução interna em busca de qualidade e eficiência.
Em menos de dois anos, a empresa cortou R$ 480 milhões de investimentos considerados desnecessários, diminuiu suas despesas em R$ 300 milhões por ano e fez um corte de 8.605 funcionários.
O presidente da empresa, Andrea Matarazzo, 39, diz que a Cesp é hoje a melhor companhia energética do país e que está preparada para a privatização que será feita a partir de maio de 97.
Segundo o cronograma aprovado pela Assembléia, a companhia será vendida por partes.
Primeiro, será privatizada CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), que é controlada pela Cesp. Em seguida, as usinas hidrelétricas (20 no total) serão vendidas em cinco blocos: as da bacia do Rio Pardo, do Paranapanema, do Tietê, do Paraíba e do Paraná.
Por fim, a atividade de distribuição de energia elétrica será desmembrada em uma ou duas empresas independentes que também serão privadas. Apenas a transmissão permanecerá estatal.
Em entrevista à Folha, Andrea Matarazzo disse que o plano de ação que mudou o perfil da empresa foi proposto pelo próprio quadro de pessoal da casa e, por isso, a estatal conseguiu fazer uma redução drástica de funcionários sem enfrentar greve.
Em janeiro de 1995, a Cesp possuía 19.705 empregados, dos quais cerca de 1.500 estava cedidos (com ônus para a estatal) para outros órgãos. Havia 473 departamentos no organograma da empresa e 627 cargos de gerência.
Hoje, a Cesp está com 11.100 empregados, 290 departamentos e 309 cargos de gerência. A folha de pagamentos, incluindo encargos sociais, encolheu de R$ 990 milhões por ano para R$ 620 milhões.
A empresa ocupava oito prédios na cidade de São Paulo e passou a usar três.
Entre os "supérfluos" cortados estavam dois aviões Bandeirante e um microônibus que a estatal mantinha no Aeroporto de Congonhas (São Paulo) para transportar empregados da plataforma de embarque até o avião.
No interior, 220 agências de atendimento pessoal a clientes foram desativadas e substituídas pelo atendimento telefônico através das linhas 0800. "O atendimento telefônico é muito mais simples e cômodo para o usuário."
Para melhor o atendimento, a empresa passou a atender de imediato os clientes que têm o fornecimento de energia cortado por falta de pagamento.
"Constatamos que 98% das pessoas que têm a ligação cortada pagam a conta rapidamente. Por isso, resolvemos acreditar nos clientes e passamos a religar a energia com um simples telefonema."
A empresa fez ainda acordos com as prefeituras para trocar lâmpadas queimadas dos postes no prazo máximo de 48 horas.
Matarazzo diz que um dos maiores desafios da Cesp foi melhorar a receita sem recorrer ao usual aumento de tarifas. De julho de 94 até agora, diz ele, a tarifa só foi reajustada em 11,8%.
Uma das providências, neste caso, foi uma medida simples: 140 mil usuários não tinham medidores de consumo -por falha da própria estatal- e, por isso, pagavam a taxa mínima de consumo determinada, que na época era de R$ 0,50 por mês.
O aumento de receita, por essa e outras providências, somou R$ 120 milhões.
Em consequência do conjunto de mudanças, a Cesp conseguiu aumentar seu resultado operacional de R$ 174 milhões no primeiro semestre de 95 para R$ 321 milhões no primeiro semestre deste ano.
Apesar das melhorias apontadas por seu presidente, a Cesp tem um problema insolúvel: um endividamento de R$ 12 bilhões, impossível de ser pago com o faturamento da empresa (R$ 3,2 bilhões no ano passado). Por esse motivo, segundo Matarazzo, a privatização é a única saída para a companhia.

Texto Anterior: Leia a medida provisória que muda o ITR
Próximo Texto: Rio leiloa energética hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.