São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 1996
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Morte de bebês cresce em maternidade

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

A Maternidade Escola Assis Chateaubriand, a principal de Fortaleza (CE), teve um aumento de 58% na mortalidade de bebês desde o início do mês. Nos primeiros 16 dias de novembro, morreram 49 dos 688 bebês que nasceram na maternidade.
O diretor do hospital, Chagas Oliveira, disse que, em média, morrem 45 a cada mil crianças nascidas no local. De 1º a 16 de novembro, a média foi de 71 mortes a cada mil nascimentos.
Oliveira disse que ainda não conseguiu identificar uma causa para o crescimento da taxa de mortalidade infantil. "Eu seria leviano se apontasse uma causa sem antes fazer um estudo detalhado do caso."
Segundo Oliveira, uma equipe de médicos do hospital está fazendo uma análise da história clínica das 49 crianças mortas em novembro, que servirá de subsídio para um parecer sobre o caso.
Superlotação
O secretário da Saúde do Ceará, Anastácio de Sousa, afirmou que a causa "mais provável" para o que vem ocorrendo na maternidade é a superlotação de bebês nascidos de partos em condições difíceis.
"Como os hospitais conveniados ao SUS (Sistema Único de Saúde) têm se recusado a fazer os partos mais complicados, a maternidade passou a ser a única alternativa para esse tipo de atendimento e está superlotada", disse Sousa.
Segundo Oliveira, a maternidade tem capacidade para fazer 30 partos por dia, mas, nos últimos meses, essa média subiu para 40. "As pacientes chegam aqui e não temos como recusá-las", disse Oliveira.
Oliveira disse que 22% dos partos realizados no hospital são de bebês prematuros. Ele disse que, das 49 crianças que morreram em novembro, 33 já nasceram mortas.
"Cerca de 90% dos bebês internados aqui são recém-nascidos com alto risco de vida, que já vêm ao mundo com alguma doença congênita ou infecção", disse.
Segundo Oliveira, o alto risco na gravidez das pacientes que procuram a maternidade faz com que sua taxa de mortalidade seja maior que a maioria dos hospitais.
A chefe do serviço de Neonatologia do hospital, Sidneuma Ventura, disse que a superlotação faz com que os bebês não tenham a "atenção especial" que precisam.
"Temos capacidade para atender uma determinada demanda. Se ela aumenta, é natural que o serviço prestado caia de qualidade. Isso pode explicar o crescimento da taxa de mortalidade", disse.
Segundo Oliveira, a maternidade já foi considerada uma das melhores do país, tendo recebido, no ano passado, o certificado de hospital "Amigo da Criança" da Unicef.
O secretário da Saúde disse que não dispõe de mecanismos para "forçar" os hospitais conveniados a internarem casos de gravidez de risco. "Infelizmente, esses hospitais são regidos pela lógica do lucro e esse tipo de gravidez não se enquadra nessa lógica", disse.

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