São Paulo, quarta-feira, 20 de novembro de 1996
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FHC controla Serjão de mangueira na mão?

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro Sérgio Motta soltou sua língua de trapo mais uma vez e eu sou obrigada a usar este espaço novamente para falar sobre o assunto -que costuma dar tanto pano pra manga em mesa de jornalista em boteco.
O que o ministro disse sobre Paulo Maluf não é nada que o cidadão que acompanha o noticiário político nunca tenha ouvido ou, até, dito.
O problema, como sempre em se tratando de Sérgio Motta, é o tom usado para desferir petardos contra seus adversários políticos.
Aí é que está a questão, que tanto intriga os colegas: Serjão fala o que pensa, por motta, digo, motto próprio ou tem o respaldo do presidente para soltar seus upper-cuts?
É sabido que não passa de conversa para boi dormir Paulo Maluf dizer publicamente que não aprova a reeleição. Sendo contra a reeleição neste momento ele se coloca como principal opositor ao governo e fortalece sua posição de grande vitorioso nas eleições.
E ainda faz com que José Sarney e Itamar Franco tenham de sair correndo atrás do prejuízo. Mas isso não significa que mais para a frente Maluf não vá dizer que mudou de idéia porque o presidente lhe pediu de joelhos.
Então por que Motta caiu matando sobre Maluf? Para que soltar os cachorros, a esta altura, em cima de um adversário que é tido em Brasília como um "bloco do eu sozinho"? Ele fez isso na qualidade de papagaio do presidente ou porque lhe deu na veneta?
Os jornalistas com quem costumo trocar figurinhas se dividem em dois grupos: uns dizem que Motta faz o serviço sujo com o aval de FHC, que prefere posar de baronete sorridente para não abalar a tal credibilidade do Plano Real.
Outros dizem que a língua piromaníaca de Sérgio Motta escapa ao controle de Fernando Henrique e que o presidente passa a vida de mangueira na mão -no bom sentido, é claro-, esperando para apagar o próximo incêndio.
Pois eu digo: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Na minha modestíssima opinião, FHC não vive de passar ao amigo e sócio a pauta do que deve ser dito. Mas se beneficia de seus rompantes. E, quando o ministro exagera na dose, ele solta um comunicado passando um pito em Serjão. Tudo muito cômodo, muito prático, muito "comme il faut".

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