São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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A volta da palavra

JANIO DE FREITAS

A articulação para criar um fato verdadeiramente novo no cenário político, pela eleição de um presidente da Câmara alheio ao esquema que domina o Congresso, começou há mais de um mês e meio, ainda antes do primeiro turno eleitoral, e logo deixava de ser iniciativa só de lideranças do PPB, incorporando outros figurantes expressivos.
Além de não ser, portanto, produto da euforia de Paulo Maluf com sua recente vitória em São Paulo, só o sigilo em que a articulação se desenvolveu já é indicativo de que a provável candidatura do deputado Delfim Netto não tem a finalidade de "embolar a disputa" para negociar em melhor posição com o governo, como imaginam alguns.
Melhor indicativo ainda, por dispensar deduções, é o susto evidente da cúpula política do governo e dos seus vários pré-candidatos ao cargo -Michel Temer, Inocêncio Oliveira, Luiz Carlos Santos, para ficar nos já explícitos. De repente incapazes, todos, de qualquer consideração sobre o assunto que mais ocupava seus contatos com os jornalistas, abaixo só da insaciável reeleição presidencial.
As estimativas de votos, que há tempos são a principal atividade dos reeleitoreiros do governo, não deixam dúvida de que PPB-PL, as bancadas de oposição, significativa parcela do PMDB e prováveis pefelistas compõem, somados, a possibilidade aritmética de derrotar a bancada fernandista. A possibilidade política da soma é atribuída ao conceito que o deputado Delfim Netto tem feito por merecer entre os parlamentares (a onda delfinista espraia-se mais, a julgar pelo título de economista do ano que a Ordem dos Economistas de São Paulo lhe está conferindo).
Contas e mais contas, nelas introduz-se um elemento sempre maldoso, em se tratando de congressistas: a escolha do presidente da Câmara é por voto secreto. O governo pode atrair, ameaçar, prometer, comprar deputados em quantidade para manter o esquema que domina a Câmara -mas não terá a menor segurança do efeito disso sobre o voto secreto.
O voto infiel pode se dar de ambos os lados, claro, mas, no caso, são quase inexistentes os motivos que os fizessem ocorrer contra a articulação -olha aí a palavra rediviva- subversiva. Em rima, além do mais.
Um indicativo a mais de que a articulação é séria e progride: repare como estão se mostrando de cabeça erguida, com ar de confiança superior, alguns políticos que têm razões para sentir-se magoados com Fernando Henrique Cardoso.
A corrida
Betinho se aborrece com o comitê do Rio-2004, que exclui dos projetos pró-olimpíada os programas da Agenda Social.
Muita gente ainda não pegou o que chamam de espírito da coisa: essa história de Olimpíada é negócio, uma multidão de negócios -e Agenda Social não é e não dá margem a negócios daqueles.

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