São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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A inveja é uma m...

GUSTAVO BERG IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Já notou como, à medida que o tempo vai passando e o dia fatídico vem se aproximando, alguns amigos e colegas de infortúnio passam cada vez mais a se comportar como concorrentes?
Sábado à noite, você liga para o seu camarada para ver onde vai ser a noitada. "O quê? Sair?", responde o amigo da onça. "Tá louco, meu? Tô lendo Castro Alves, depois vou dar uma estudada em física, e amanhã de manhã vou numa aula de reforço de trigonometria. Festa, nem pensar. Vestibular pra agronomia é isso, não tem refresco. Você tava prestando o quê, mesmo?"
"Medicina", você responde. Culpado. Desolado. Arrasado, em suma. Pronto para se achar um imprestável, fracassado, que vai correndo voltar para os estudos.
Também existe aquele outro tipo de "companheiro", mais sacana ainda, que aceita o convite para a noite. Lá pelas duas da manhã, o cara entra em pânico. Tira você do colo da loira maravilhosa com quem você está ficando e o puxa para o canto. "Meu, tô desesperado."
Momentos de tensão. Você espera pelo pior: alguém morreu, a loira que você estava ficando era um traveco, alguma coisa do gênero. "Esqueci a fórmula do apótema de um triângulo equilátero inserido em um círculo."
Pronto, a noite está estragada. A loira foi embora, e você foi contaminado pela síndrome do vestibulando desesperado justo no dia em que estava conseguindo relaxar.
Sabe o que é isso? Inveja. Pode anotar aí: quando seus amigos começarem a ficar desesperados e notarem que você está legal, vão tentar fazer alguma coisa para botar você para baixo.
O negócio é se livrar desses "muy" amigos. Pode gritar: "Vade retro, coisa ruim", "Larga d'eu, assombração". Qualquer coisa serve, mas se afaste desses invejosos.
Procure andar com gente que não tem nada a ver com vestibular, tipo aquele seu primo que não passou nem na terceira chamada de biblioteconomia. Se todos seus amigos estiverem em ano de vestibular, façam um trato de não misturar amizade com estudo. Não tem nada a ver e sempre acaba gerando uma competição que só faz mal.
Com namorado(a), a mesma coisa. Existem casais de vestibulandos que aproveitam as horas livres para estudar. Aí fica aquela coisa ridícula: "Chuchuzinho, diz aqui pro seu pezinho de alface quem foi o valentão que esmagou a Revolta da Armada". "Ô, meu rabanetezinho, foi o Floriano Peixoto. Aquele que fazia a carinha de peixinho assim, ó, dá um beijinho."
Fica esse nhenhenhém e estudo que é bom, nada. Se for para ler a dois, tem de ser como dizia uma plaquinha de camelô: só pelo método braile. Sacou, malandragem?

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