São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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Inspiração é a senha de 'Bebadosamba'

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DO ENVIADO ESPECIAL

Na canção-título de "Bebadosamba", Paulinho da Viola faz um chamamento. Evoca Cartola, Ismael Silva, Noel, Pixinguinha, Donga, Wilson Batista, Nelson Cavaquinho... A oração à inspiração faz-se tema central do disco.
O artista ressurge clamando por inspiração, como se tal fosse necessário. Não é: ele volta com seu disco mais inspirado em 20 anos, desde os dois LPs "Memórias".
"Bebadosamba" é -apenas resguardando qualidades constantes do artista há mais de 30 anos- o mais primoroso disco lançado nesta década no Brasil.
Ele chega esfuziante, espraiando sabedoria acumulada em variáveis que abrangem experiências de genialidade dispersas por um século de existência do samba.
Exemplos? "Timoneiro", cimo de perfeição no disco, é ciranda de letra intocável que parece feita por Candeia para Clara Nunes.
"Novos Rumos", de Rochinha e Orlando Porto, recupera peça cantada por Silvio Caldas nos 50. Paulinho a interpreta em voz impostada, a dizimar dúvidas: preserva o título de maior intérprete masculino da moderna MPB.
"Memórias Conjugais" é ponte entre a crônica urbana de início de século de Noel Rosa ou Sinhô e o choro brejeiro de Pixinguinha ou Jacob do Bandolim.
Paulinho aprofunda laços com o passado, não porque seja saudosista, mas porque, sábio, sabe que não são bons os tempos de agora.
Ironia. Pense em Nelson Cavaquinho e Cartola velhinhos, cantando e compondo. E agora pense em Paulinho da Viola. Aos 54, temeroso de perder inspiração, ele está apenas começando. Os segundos 30 anos de atividade artística que ele inicia prometem: o melhor está por vir.
(PAS)

Disco: Bebadosamba, de Paulinho da Viola
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 20, em média

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