São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 1996
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FALTAM EXPLICAÇÕES

O Projeto Cingapura, programa habitacional da Prefeitura de São Paulo, tornou-se, ao lado do PAS, um dos principais temas da campanha eleitoral deste ano. Enquanto a oposição petista afirmava que os beneficiados não eram proprietários dos apartamentos, o candidato da situação, Celso Pitta (PPB), dizia em seu programa de televisão: "Quem mora no Cingapura é dono sim senhor".
Mas apenas três dias depois de confirmada a vitória de Pitta, o prefeito Paulo Maluf retirou da pauta de votação da Câmara Municipal quatro projetos que justamente permitiriam a venda de áreas ocupadas pelo Cingapura aos seus moradores.
Diferentes justificativas para a retirada dos projetos foram dadas por representantes do Executivo, mas nenhuma esclareceu a verdadeira intenção da prefeitura. Enquanto o líder do prefeito na Câmara, Miguel Colasuonno, afirmava que os projetos haviam sido retirados pelo Executivo por "problemas técnicos", o secretário da Habitação, Lair Krahenbuhl, negava tal versão.
O líder governista afirmou ainda que um novo e "amplo" projeto relativo ao mesmo tema foi encaminhado à Câmara, sem oferecer detalhes a respeito de seu conteúdo. Ao mesmo tempo, a Ordem dos Advogados do Brasil aponta inconstitucionalidade em qualquer projeto de venda de áreas que eram de uso comum, o que seria um impedimento legal para a transferência da posse de parte dos apartamentos aos moradores.
Independentemente das razões que levaram a prefeitura a alterar o rumo dos projetos sobre o Cingapura, o episódio mostra que tanto o prefeito Paulo Maluf como os vereadores que o apóiam devem esclarecimentos sobre o que realmente será feito.
A posse definitiva das unidades do projeto foi tema central da campanha deste ano, utilizado seguidamente por Pitta em seu favor. A prefeitura tem a obrigação de estabelecer total transparência na decisão sobre o Cingapura ou estará traindo boa parte da confiança que a maioria dos eleitores depositou tanto na atual administração como no prefeito eleito.

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