São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Morte de bebês faz ministro ir ao Ceará

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA AGÊNCIA FOLHA

O ministro interino da Saúde, José Carlos Seixas, embarcou ontem à noite para Fortaleza. Ele vai discutir com o governo do Ceará medidas urgentes para reorientar a assistência à gestante no Estado.
Uma dessas medidas deverá ser a criação de uma central de leitos para diminuir o fluxo de gestantes enviadas à Meac (Maternidade-Escola Assis Chateaubriand), em Fortaleza, onde morreram mais dois bebês ontem. Desde o início do mês, foram 51 mortes.
Também serão ampliados os leitos em UTIs neonatais do Hospital Geral de Fortaleza, que hoje só tem quatro leitos, e de outras unidades da rede pública.
O ministério também poderá dar ajuda financeira para a capacitação de médicos e enfermeiros especializados em partos e cuidados com recém-nascidos.
Seixas também pretende convencer a Prefeitura de Fortaleza a investir no Programa de Saúde da Família para melhorar a assistência pré-natal, detectando precocemente as gestações de alto risco.
Sem infecção
A equipe do Ministério da Saúde que investigou a morte de recém-nascidos na Meac descartou definitivamente a hipótese de algum dos bebês ter morrido por infecção hospitalar.
Segundo relatório elaborado pela equipe, as mortes foram causadas porque a maioria das gestações era de alto risco e os bebês nasceram com peso abaixo do normal, afecções neonatais (como doenças respiratórias), prematuridade e má-formação congênita.
A superlotação da maternidade -única do Estado especializada em atendimentos de alto risco- foi apontada como fator contribuinte para a morte dos bebês.
A Meac, que pertence à Universidade Federal do Ceará, tem 60 leitos para recém-nascidos, mas já chegou a ter 120 internados e é responsável por 30% de todos os partos feitos em Fortaleza.
Em Fortaleza, o diretor da maternidade, Chagas Oliveira, disse que os dois bebês cujas mortes foram anunciadas ontem foram vítimas de sequelas provocadas pelo fato de serem prematuros.
Oliveira disse que as mortes anunciadas ontem estão dentro da "margem de previsibilidade".
Inquérito
O secretário da Saúde do Ceará, Anastácio Queiroz, disse que as mortes ocorridas ontem reforçam a tese de que a taxa de mortalidade está elevada na maternidade devido ao aumento no atendimento de partos de alto risco.
Por determinação da Procuradoria de Justiça do Ceará, a Polícia Civil abriu ontem inquérito para apurar as circunstâncias das 51 mortes ocorridas no mês na maternidade. Foram intimados o diretor da maternidade e a chefe do Serviço de Neonatologia para deporem na terça-feira.
O secretário disse que vai se reunir hoje com os diretores das maternidades de Fortaleza para discutir formas de ampliar o atendimento às grávidas e desafogar a maternidade.

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