São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Garoto de 14 anos é morto por policial

FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

O estudante A.S.T., 14, morreu ontem ao ser atingido por dois tiros disparados por um policial militar a 70 m de sua casa, no Jardim Valdíbia, bairro de classe média baixa de São Bernardo do Campo (Grande SP).
Segundo seus parentes, A.S.T. morreu porque estava brincando com um revólver de brinquedo, que teria sido confundido pelos PMs com uma arma de verdade.
Na versão da PM, o policial, identificado apenas como cabo Dimopoulos, teria disparado em legítima defesa, pois teria sido recebido a tiros pelo garoto.
A PM afirma que foi apreendida com o garoto uma pistola automática e que um morador do local teria testemunhado os disparos.
Por volta das 9h30, A.S.T. estava com um amigo da mesma idade em frente a um campo de futebol, quando um carro da PM parou.
"Os PMs desceram do carro gritando que ele soltasse a arma", disse Valmir Tossato, 36, tio de A.S.T.
"Meu sobrinho disse que a arma era de espoleta, mas um dos policiais atirou duas vezes, acertando no queixo e no peito", afirmou.
Tossato disse que a cena foi descrita pelo garoto que estava com A.S.T. Ele estaria escondido na casa de um amigo.
Segundo a versão da PM, os policiais estavam passando pelo local quando avistaram os dois garotos em "atitude suspeita".
"Não temos dúvida de que ele atirou em direção aos policiais com uma arma de verdade", disse o tenente Júlio César Parruca, que preside o inquérito da PM.
Segundo o boletim de ocorrência, os garotos estariam observando "de forma estranha" a rua.
Os policiais teriam descido do carro e sido recebidos a tiros. Um dos PMs teria sido atingido no polegar da mão esquerda. A.S.T. foi levado pelos policiais ao pronto-socorro, mas já chegou morto.
"Tenho certeza de que o PM simulou o ferimento", disse o tio. Segundo ele, o brinquedo foi dado a A.S.T. pelo pai, Reinaldo Tossato, 39, que tem uma empresa de manutenção de aparelhos eletrônicos. "Esse brinquedo estava guardado em um canto. Só ontem (anteontem) ele pegou de novo."
O cabo Dimopoulos e o soldado Novo (que o acompanhava) estavam depondo na Corregedoria da Polícia ontem e não puderam falar à Agência Folha.

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