São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Agora, Godard ficou claro

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Godard é incompreensível, ouve-se com frequência. Godard é chato, ouve-se com mais frequência ainda.
Os dois. Godard tem a desfaçatez de estragar nosso prazer de ver um filme com começo, meio e fim -nessa ordem. Vem sempre com alguma coisa que não se espera. Como no episódio dedicado à França da série "Cem Anos de Cinema (Bravo Brasil, 22h).
Em vez de mostrar fragmentos de filmes, ele discute esse centenário, o que o cinema é, foi, pode ser. Quando seu interlocutor (Michel Piccoli) diz que vai celebrar o centenário do cinema, Godard devolve: "Mas por que celebrar? Ele já não é célebre o bastante?".
Ou seja, quem espera por um resumo da história do cinema francês, pode mudar de canal. É uma reflexão sobre a memória (ou falta de) que o cineasta desenvolve.
Agora, mesmo quem acha Godard um chato irremediável está no dever de lhe abrir um crédito de confiança. É possível que, até o último 15 de novembro, um filme como "Week-end", por exemplo, fosse incompreensível.
Quem esteve no congestionamento interminável da Anchieta-Imigrantes, ou quem o viu pela TV, compreenderá com facilidade o que mostra "Week-end".
Aliás, se alguém tivesse instalado um telão e exibido o filme em pleno congestionamento, teria presenciado, provavelmente, um pequeno milagre: de repente, para aquele público, "Week-end" seria de uma clareza cristalina.
Ou talvez uma parte do público reclamasse. Porque no filme tudo pareceria mais claro, ordenado e lógico do que na vida real.
(IA)

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