São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Cidade vê expressões da arte do Brasil

RICARDO OHTAKE
ESPECIAL PARA FOLHA, EM MIAMI

Arnaldo Antunes em galeria de arte: assim começou a versão de 1996 de "New Vision Florida/Brasil: a Festival and Exchange", na última sexta, criação e realização da produtora americana Mary Luft.
Arnaldo Antunes fez uma enorme poesia ocupando a principal parede da Ground Level Gallery, de nove metros por cinco metros, com colagem da palavra NOWHERE, sendo a grande figura da mostra que contou com poetas visuais americanos.
Aliás, em Miami se encontra o talvez maior acervo de poesia visual do mundo, a coleção Sackner (cujo titular esteve na abertura), que tem obras desde o construtivismo russo e soviético, das décadas de 10 e 20, passando pelos muitos livros e obras soltas de brasileiros, como os trabalhos iniciais de Haroldo de Campos.
Mary Luft fez um corte não obrigatoriamente passando pela expressão mais contemporânea, mas por aquilo que fala agora.
Dizer sobre os brasileiros que aqui estão se apresentando não é o mais importante, mas as coreógrafas-dançarinas Renata Melo (com Plinio Soares) e Susana Yamauchi foram muito bem entendidas pela sempre presente questão da mudança cultural.
Antunes
Arnaldo Antunes realizou uma performance experimental com Zaba Moreau, sua mulher e instrumentista de sua banda, tendo poesia, vídeo e música, num programa em dobradinha com a cantora Marlui Miranda.
Marlui fez "Ihu" somente com os músicos Rodolfo Stroeter, Benjamin Taubkin e Caito Marcondes, o que foi curioso pelo contraste temático de linguagens universais.
"A Reunião dos Demônios", longa-metragem de Cecilio Neto, foi apresentada em première aqui no Festival, tocando fundo o coração de todos os espectadores e mostrando que a qualidade técnica do atual cinema brasileiro pode ser muito boa.
Completando, as dançarinas fizeram workshops, Helena Katz fez duas palestras sobre música, eu falei sobre investimento em cultura, particularmente em cinema.
Mas o mais importante foi o excelente serviço que Mary Luft prestou à arte brasileira, conseguindo fazer com recursos pequenos que se apresentem na Flórida trabalhos de muita seriedade, com diferentes pontos de vista, sem que obrigatoriamente tenham grande público, abrindo difíceis portas nos Estados Unidos.
O público é predominantemente de americanos, o establishment cultural esteve presente e diretores de instituições como a New World School of the Arts -para jovens de 13 a 20 anos-, a melhor escola de arte dos Estados Unidos, ou o recém-construído Museum of Contemporary Arts, ou a Wolfsonian Foundation, de Micky Wolfson, cuja nova diretora, Cathy Leff, é grande amiga dos brasileiros.
São todas instituições que demonstram grande interesse pelo Brasil.
Na próxima versão, Mary Luft espera trazer críticos e produtores de arte de outros locais, para melhor divulgação do festival de arte brasileira nos Estados Unidos. São desdobramentos do sucesso deste ano.

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