São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Droga contra Chagas será feita no espaço

DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisadores de vários países da América Latina vão produzir um medicamento contra o mal de Chagas no espaço.
O projeto, batizado "ChagaSpace", é patrocinado pela Comissão de Atividades Espaciais da Argentina (Conae) e pela Nasa, a agência espacial norte-americana.
O mal de Chagas, uma das principais causas de morte e invalidez na América Latina, é uma doença causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e transmitida pelo inseto barbeiro.
Estima-se que 10% da população rural brasileira esteja contaminada pelo parasita, e que 15 milhões de sul-americanos tenham a doença.
O projeto vai consistir em cristalizar no espaço, a bordo de uma espaçonave norte-americana, moléculas que possam ser usadas como medicamento contra o parasita.
Segundo Marcos Machado, diretor científico do Conae, a fase de cristalização das moléculas deve acontecer a partir de março de 1997.
"A idéia é fazer os experimentos no espaço. Ali devido à menor gravidade, podemos conseguir cristais mais puros e porque podemos conseguir mais informações sobre as moléculas estudadas", disse Machado.
O projeto também conta com cientistas do Centro de Cristalografia Molecular da Universidade do Alabama (EUA), da Universidade de Santiago (Chile), da Escola Agrícola da Região Úmida (Costa Rica), da Universidade do Uruguai e do Instituto Nacional de Chagas da Argentina.
Os cientistas acreditam que os testes em animais com os medicamentos produzidos no espaço devam começar em 1998. Em cinco anos as drogas devem ser testadas em humanos. Ainda não se sabe o custo total do projeto.
Brasil Pesquisadores brasileiros liderados por Ana Lucia Sgambatti conseguiram curar com a droga antiparasítica benznidazol 58% das crianças testadas. O estudo esta sendo publicado na última edição da revista médica "The Lancet".
A pesquisadora, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (Goiás), acompanhou durante três anos 130 crianças entre 7 anos e 12 anos.
As crianças foram divididas em dois grupos. O primeiro recebeu a droga, e o segundo recebeu uma substância inócua (placebo).
Ambos os grupos foram tratados durante 60 dias.
Os resultados mostraram que, após três anos, 58% das crianças tratadas com o benznidazol ficaram livres dos anticorpos -isto é, estavam curadas.
Apenas 5% das crianças do grupo que recebeu o placebo ficaram livres dos anticorpos contra o Trypanosoma cruzi.
Os pesquisadores concluíram, em texto publicado na revista, que "o sucesso dos testes significa que o tratamento de crianças com a droga contra o parasita do mal de Chagas deveria ser adotado como política de saúde pública".

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