São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Com satélite, ONU localiza 700 mil no Zaire

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A agência da ONU para refugiados disse ter identificado pela primeira vez a localização de 700 mil refugiados no leste do Zaire.
"Nós localizamos os refugiados com a ajuda de fotos de satélite e de vôos de reconhecimento de países do Ocidente na região", disse Melita Sunjic, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Foi a primeira vez que uma agência humanitária conseguiu fazer um quadro de onde estão os refugiados depois que eles fugiram de uma revolta dos tutsis do Zaire.
A localização dos refugiados é necessária para que a ajuda humanitária possa ser entregue.
Oficiais militares de 20 países, inclusive do Brasil, devem se encontrar hoje em Stuttgart (Alemanha) para "rever as opções militares" de uma força criada para restabelecer a ajuda humanitária. O encontro já foi adiado duas vezes, e nenhuma decisão é esperada.
Os EUA, o Reino Unido e países africanos consideram que, com a volta dos 500 mil refugiados a Ruanda, a operação pode perder o seu sentido. Eles temem apenas entrar em um conflito interno.
Os tutsis banyamulenges estão promovendo uma ofensiva contra o Exército do Zaire por se considerarem perseguidos pelo país.
Mas França, Espanha, União Européia (UE) e Acnur ainda consideram a força necessária.
A comissária (ministra) da UE para ajuda humanitária, Emma Bonino, chegou ontem a acusar a comunidade internacional de racismo.
"Quantas vidas terão de ficar em risco, quantas pessoas devem ser suficientes para justificar o envio de tropas do mundo civilizado?", disse no Parlamento Europeu. "É a cor da pele que faz a diferença?"
Ao norte de Bukavu, estão 200 mil refugiados, e, ao sul, 250 mil. Ainda mais ao sul, na região de Uvira, estão outros 100 mil hutus.
Apesar da localização obtida pela Acnur, a agência ainda precisa determinar para onde os refugiados estão se dirigindo.
Filippo Grandi, da agência, disse que a Acnur finalmente conseguiu ter acesso à cidade de Sake.
A ONU também conseguiu ontem enviar uma equipe de avaliação para Bukavu. Os rebeldes estavam impedindo a entrada das agências humanitárias na cidade.
Combates Ontem, foram registrados novos enfrentamentos entre os tutsis banyamulenges e membros da milícia hutu de Ruanda no exílio.
"Estamos recebendo informações de que há combates na região de Minove e das montanhas ao norte de Goma", disse a Acnur.
Refugiados que estão chegando a Goma dizem que estão ocorrendo enfrentamentos nos últimos dias na região. Há também novos combates na estrada entre Goma e Bukavu, segundo informações de rádio captadas no Quênia.
O Zaire disse ontem que planeja romper relações diplomáticas com Burundi, Ruanda e Uganda, países que os zairenses acusam de estar ajudando os tutsis em sua revolta.
A ameaça foi feita pelo premiê do Zaire, Kengo wa Dondo. O premiê afirmou também que vai "reconquistar" o território que é hoje controlado pelos rebeldes tutsis.
Em Nice, no sul da França, o líder da oposição zairense, Etienne Tshisekedi, encontrou-se com o presidente do Zaire, Mobutu Sese Seko. O opositor prometeu participar de uma "reconciliação nacional" para livrar o país da crise.
Mobutu está descansando após um tratamento contra câncer.

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