São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 1996
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Uma tarefa que começa em casa

NELSON JOBIM

No próximo dia 3 de dezembro, o Brasil subscreverá em Montevidéu o documento "Estratégia Antidrogas no Hemisfério". Sem descaracterizar os aspectos sociais, econômicos e culturais e preservando a soberania dos 34 países americanos signatários, o documento unifica a estratégia de controle e erradicação das drogas no hemisfério, elegendo a redução da demanda como componente-chave das políticas de enfrentamento do problema.
A opção pela educação, pela prevenção e recuperação, tendência que se solidifica na nova estratégia hemisférica, é privilegiada no documento a ponto de banir as referências a conceitos de conteúdo militar, como "guerra", "luta", "combate", de cunho dramatizante, como "flagelo", e incorretos, como "narcotráfico".
Essa opção hemisférica coincide com a política brasileira, que considera o usuário uma vítima e, como tal, necessitado de tratamento, de compreensão, muito mais que de repressão ou punição.
Entretanto, a ênfase à recuperação e à prevenção como instrumentos de redução da demanda não diminui, nas medidas de controle das drogas, a importância do desmantelamento das organizações criminosas.
Para isso, a estreita cooperação entre os organismos policiais desses países ocupa posição de destaque entre os 42 pontos abordados na "Estratégia Antidrogas no Hemisfério".
Para o Brasil, que reconhece o caráter transnacional do problema, o ato de subscrição daquele documento transcende a unificação da estratégia contra as drogas. Com ele, cada país do hemisfério americano ganha 33 aliados nesse trabalho.
Um trabalho que o Brasil já vem travando há muito tempo. Governo e nação cada vez mais se unem para encarar de frente esse mal. Como em todo trabalho, há vitórias e derrotas, mas em nenhum momento desesperança ou esmorecimento.
Lançado em março deste ano com o objetivo de unificar as ações governamentais nesse campo, o Programa Nacional Antidrogas (Panad) já tem o que contabilizar em matéria de resultados positivos.
Infelizmente, são mais notórias as ações negativas do que as vitórias obtidas no trabalho contra esse mal. É bem verdade que tem aumentado o consumo de drogas no país. Os governos federal, estaduais, municipais e a sociedade organizada, entretanto, têm sido incansáveis no trabalho contra a proliferação, na recuperação e na ressocialização dos dependentes.
Contudo todos já sabemos que os melhores resultados são obtidos com a prevenção, e esta deve começar no seio da própria família.
O diálogo entre pais e filhos, o alerta constante para os perigos representados pelo vício, seja direta ou indiretamente, a observação assídua dos pais em relação ao comportamento dos filhos, o acompanhamento de suas ansiedades, suas buscas e suas dúvidas representam, ainda, o melhor antídoto contra as drogas.
É comum ouvir dizer que é impossível acabar com as drogas. Isso não é verdade. Se toda a sociedade se conscientizar de que elas representam um mal irreparável para as pessoas, os jovens principalmente, um dia as veremos banidas do nosso convívio. Mas isso tem que começar em casa. A melhor maneira de escapar do vício é não experimentar jamais.

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