São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Dívida suspende distribuição de remédios

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os 12 laboratórios oficiais que produzem 50% dos medicamentos distribuídos na rede pública de saúde informaram ontem ao governo que estão suspendendo a fabricação até que o Ministério da Saúde pague a dívida de R$ 48 milhões vencida em setembro.
A informação foi dada pelo presidente da Alfob (Associação dos Laboratórios Oficiais do Brasil), Antônio José Alves e confirmada pelo Ministério da Saúde.
Os laboratórios oficiais fabricam a maioria dos remédios para combate a doenças como Aids, malária, tuberculose, diabetes, cólera, meningite, hipertensão arterial e leishmaniose.
Na quarta-feira, Alves se reuniu com o ministro interino da Saúde, José Carlos Seixas, que pediu prazo até ontem para conseguir o dinheiro junto à equipe econômica.
Segundo Alves, Seixas argumentou que o ministério não dispunha mais de orçamento próprio para quitar a dívida. Até as 19h de ontem, o ministério não havia dado nenhuma resposta oficial à Alfob.
O Ministério da Saúde confirmou ontem que não havia recursos disponíveis para saldar a dívida. Segundo a assessoria de imprensa do ministro, Seixas terá audiência na terça-feira com a Presidência da República, para pedir o dinheiro necessário.
Aids e malária
A situação mais grave, segundo a Alfob, é a da produção de AZT (usado para combater a Aids) e de remédios contra a malária.
O programa de DST/Aids do Ministério da Saúde só tem AZT suficiente para o próximo mês. A droga é fabricada pelo laboratório pernambucano Lafepe.
Segundo a direção do laboratório, a produção foi suspensa desde o início da semana, porque não havia mais dinheiro para comprar os insumos necessários.
O Lafepe deveria entregar até o fim do ano 36 milhões de cápsulas de AZT ao Ministério da Saúde. Até agora, só entregou 10 milhões.
O laboratório Farmanguinhos (do Rio de Janeiro), que produz todos os medicamentos contra a malária do país, também já suspendeu a produção desde segunda-feira por falta de verbas.
Assim como a fabricação de anti-hipertensivos, antibióticos e de drogas contra a tuberculose pelo IVB (Instituto Vital Brasil), também do Rio.
Segundo o presidente da Alfob, os outros nove laboratórios param suas atividades a partir de hoje.
"Estamos avisando que não havia mais condições de continuar operando no vermelho desde o início de novembro. Mas parece que o governo só toma atitudes quando as pessoas começam a morrer", disse Alves.
O ministério tem contrato com os 12 laboratórios para a produção de 1,5 bilhão de unidades de medicamentos para todo o ano de 96, totalizando R$ 153 milhões.

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