São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Um tigre ardendo na erva de outro país

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, ainda sobre livros e fut. Saiu este ano, na Espanha, um voluminho duca, da velha e boa Alianza Editorial.
Chama-se "Épica Y Lírica del Fútbol", de autoria do jornalista Julián Garcia Candau.
Em vez de ficar perdendo o seu tempo com tanta porcaria que anda por aí no futebol brasileiro, se você tiver uma chance, leia o livro do Candau.
O futebol ficará, definitivamente, mais interessante.
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Não sei se você se tocou, mas, à antiga dupla música-futebol, esta coluna acrescentou um terceiro atacante, a literatura -que, felizmente, anda crescendo nos gramados desse mundo velho sem porteiros.
Por falar em porteiros, goleiro, diz o preconceito por aqui, ou é louco ou é veado.
A galera pega no pé por que ele é um jogador em regime de exceção: é o único que pode pegar a bola com as mãos.
Há uma espécie de maldição do cargo: defender tudo é obrigação, falhar é solapar o trabalho de toda uma equipe.
Um goleiro não tem o direito de errar.
Por tudo isso, por seus múltiplos desafios, é natural que o goleiro fascine os escritores. Nabokov, em texto memorável, chamou o goleiro de "o homem do mistério".
A dupla de área germânica Peter Handke e Wim Wenders-e-aprendendo, como diria o santista Bob Wolfenson, deu longa vida ao "medo (disse alguém que a melhor tradução seria "angústia") do goleiro diante do pênalti".
Eu já conhecia um poema do italiano Umberto Saba chamado "Goal". Ele também está no livro campeão do Candau.
Mas eu não conhecia o poema do Rafael Alberti, de 1928, dedicado ao húngaro Platko, que atuou no Barcelona. Naquela época, o torneio espanhol de futebol mais importante era a Copa de Espanha.
A decisão de 28 deu-se por meio de três partidas, disputadas entre o Barça e o Real Sociedad, em Santander.
O grande conhecedor dos segredos dos touros José María de Cosío levou Rafael Alberti para ver o primeiro jogo da final. Naquela tarde, Platko sofreu uma contusão e seu sangue jorrou cabeça abaixo, fato que impressionou o poeta.
Segundo ele, ninguém esquecerá o goleiro Platko, "tigre ardendo na erva de outro país".
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A rodada do fim-de-semana passado, que, no Brasil, parece remotíssima, foi dos goleiros.
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O Veléz Sarsfield, sem pintar por aqui com craques memoráveis, é sempre uma pedra na chuteira dos brasileiros. É regularmente destemido e determinado a vencer (como o Grêmio). E o bull dog paraguaio Chilavert juntou glamour ao espírito guerreiro da equipe.
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Saiu aqui que o nome da editora do livro do João Máximo sobre o Saldanha é Relume Damará. O certo é Dumará.
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Delícia saber que o Armando Nogueira, que luta para que o futebol fique mais inteligente no Brasil, também não concorda com o "1" do esquema do velho Lobo do fut Zagallo.
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Sem Gabriela Sabatini, que batia aquela bolinha, o tênis (êpa, êpa!) fica menos charmoso e menos sexy. Adiós, Gabi.

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