São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Tocava tamborim melhor que um paulista'

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando Richard Feynman desembarcou no Rio de Janeiro, em 1951, sua fama -não importando de qual tipo- se restringia à comunidade de físicos brasileiros.
Quando deixou o Brasil, em 1952, já era conhecido até pelos competidores dos concursos de fantasia no Carnaval.
Feynman veio ao país a convite do físico Cesar Lattes, para dar aulas no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, onde, ao mesmo tempo que formou, também divertiu ou assustou muitos interessados.
"Ele era um homem de grande poder de imaginação. Reconstruía o que queria aprender. Quando chegou por aqui, Feynman já tinha aprendido o espanhol. Logo depois, já falava português", disse à Folha o físico José Leite Lopes, 78, que, depois da passagem de Feynman, virou amigo do americano.
"Nós nos correspondemos até sua morte. Tenho até hoje todas as suas cartas. Ele passava as férias no Brasil sempre que podia. Penso que ele foi muito importante para o desenvolvimento das pesquisas brasileiras."
Até hoje, entre os professores de física do Rio, as lendas sobre Feynman se avolumam. Tanto entre as as gerações mais novas quanto para aqueles que tiveram com ele apenas um rápido contato.
O físico Francisco Antônio Dória, 50, se recorda das histórias que seu orientador, Adel da Silveira, já morto, lhe contava sobre Richard Feynman.
"Ele dizia que Feynman costumava cantar durante as aulas e que ficava sempre tocando instrumentos usados no Carnaval, pois tinha uma atração pelo samba. Falava ainda que Feynman teria se apaixonado por uma mulata."
"Ele realmente adorava a música popular", sustenta o também físico Fernando Souza de Barros. "Eu convivi com ele por poucos dias. Deu-me a impressão de ser uma pessoa impetuosa."
Leite Lopes confirma alguns rumores e prazeres de Feynman no Rio dos anos 50. Fala do dia em que o pesquisador da física quântica resolveu sair em um bloco de Carnaval.
"Não lembro o nome... Talvez 'Os Malandros de Copacabana'. Ele saiu pelas ruas tocando frigideira com uma colher, entusiasmado com toda aquela agitação. Ele adorava o som."
No mesmo período, decidiu participar de um baile a fantasia: "Ele saiu fantasiado de Mefistófeles".
Mas há também a placidez: "Feynman gostava de olhar as areias e as praias de Copacabana. Ele gostava de meditar naquele lugar. Depois da frigideira, resolveu aprender cuíca e tamborim. Ele realmente se dedicou a isso. Depois de algum tempo estava tocando muito bem. Acho até que o som que conseguia tirar do instrumento era melhor do que o de qualquer paulista".
(MR)

Texto Anterior: Bomba de Feynman explode nos cinemas e as livrarias
Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.