São Paulo, sábado, 23 de novembro de 1996
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Diana Vreeland vive nos palcos de NY

ERIKA PALOMINO
EM NOVA YORK

Terrivelmente chique! Assim a própria Diana Vreeland poderia classificar a peça "Full Gallop", um dos maiores sucessos da temporada teatral em Nova York.
É o boca-a-boca que tem enchido o pequeno teatro da rua 43, fora do circuito Broadway, com o monólogo da atriz Mary Louise Wilson interpretando a lendária editora de moda que definiu padrões de estilo durante 20 anos.
Diana Vreeland (1903-1989) era de fato bastante teatral. Seu look era sempre dramático, celebrizado pelo intenso blush vermelho aplicado até as orelhas -que também ficavam pintadas de vermelho-, com os cabelos puxados para trás.
Vreeland tinha temperamento forte e criatividade adiante de seu tempo. Daí ter transformado seus anos nas revistas "Harper's Bazaar" e "Vogue" em reinados de elegância, frescor e inventividade.
Depois, quando todos a julgavam fora de cena, reinventou o departamento de moda do Metropolitan Museum.
Autora de polêmicas frases de efeito (leia texto à esq.), no dia-a-dia ou em seus artigos, Vreeland as permeava com maneirismos bastante peculiares.
A intepretação de Mary Louise Wilson traz tudo isso à cena, sem caricaturas, vivendo a personalidade e o espírito de D.V.
Estão lá seus gestos eloquentes, muitos ensinados por amigos da editora (como Richard Avedon, que foi ao camarim falar com a atriz). Todos deixam o teatro impressionados com a personificação do mito Vreeland por Wilson -que ela não conheceu.
Atriz de produções da Broadway como "Prelude to a Kiss", "Alice in Wonderland" e "Philadelphia Story", e de filmes como "Greencard", "She-Devil", "Pet Sematary" e "Zelig", Wilson encontrou em Diana Vreeland o papel perfeito para sua explosão.
Co-autora de "Full Gallop", a atriz ganhou os prêmios Obie e Drama Desk Award por sua interpretação de Vreeland, que estreou em Nova York na última temporada no Manhattan Theatre Club e agora ganha força total.
Aliás, força total é tradução livre para o título da peça. Remete ao período em que Vreeland é sumariamente demitida da revista "Vogue" e, após viagem de quatro meses pela Europa, retorna a seu apartamento na Park Avenue -recriado com charme e perfeição na sala do Westside Theatre.
Na peça, a ação mostra uma Vreeland solitária, num jantar organizado sem nenhum dinheiro por ela em sua casa, em que nenhum dos convidados aparece.
Fala ao telefone o tempo todo e, ao ser perguntada sobre como está diante dos acontecimentos, diz que está ótima: "Full gallop".
Cheia de ironia, é o modo como Vreeland sempre superou suas adversidades, que aparecem no texto como uma animada conversa da atriz com o público. A atmosfera é intimista e Mary Louise Wilson conduz seus ouvintes pelas histórias de D.V. com carisma e brilho.
São muitas e glamourosas as passagens, das viagens ao casamento; da infância de menina feia às festas com princesas, reis e personalidades excepcionais deste século com quem Vreeland pôde conviver.
O grande deleite do espectador, entretanto, é acompanhar as pequenas "bossas": cada vez que Vreeland-Wilson se esquece do nome das pessoas; descreve cada roupa com detalhamento e paixão pela moda; compra brigas e disfarça o momento de decadência que enfrentava em 71 -quando se passa a trama- com pura "joie-de-vivre".
"Full Gallop" tem o mérito de não ficar limitada ao mundo da moda ou a exímios conhecedores da vida de Diana Vreeland. Mas, claro, quanto mais se sabe, maior o prazer do espetáculo.
Peça: Full Gallop
Onde: Westside Theatre, em Nova York (407 W 43rd St., tel. 001-212-315-2244.
Quando: de terça a sábado às 20h; quartas e sábados às 14h, domingo às 15h

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