São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996 |
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Bem-informado é alvo frequente
AURELIANO BIANCARELLI
"As pessoas que mais caem são justamente as mais informadas. As pessoas tentam se enganar alegando que é só uma vez, que conhecem o parceiro." Francisco participa do Projeto Bela Vista de São Paulo há um ano e meio. Desde 1993 faz parte do GIV, um grupo de auto-ajuda que reúne doentes de Aids e amigos. Ele relata uma noite em que militantes e pessoas bem-informadas estiveram na inauguração de uma boate gay. "Numa certa hora da festa, muitos jogaram a camisinha e transaram assim mesmo." Por conta própria, Francisco diz ter feito uma pesquisa para entender por que tanta gente rejeitava a camisinha. Concluiu que o problema não estava no preservativo. "As pessoas vão pela loucura do sexo, abandonam a camisinha com parceiros desconhecidos." Francisco diz que adotou o preservativo ainda no final dos anos 70, quando perdeu os primeiros amigos no exterior. "A Aids nem chamava Aids ainda. E as pessoas já estavam morrendo." Francisco afirma que no Projeto Bela Vista há muitos bissexuais, como ele próprio. "Muitos acham que com as mulheres correm menor risco, por isso abandonam a camisinha nessas relações. As mulheres estão pagando um preço alto por isso, se infectando cada vez mais, sem saber de nada." O professor Júlio A., 29, faz parte do GIV e está no Bela Vista desde 1994. Segundo ele, três pessoas que pegaram Aids no projeto revelam que muitos se descuidam. "Muita gente se segura por causa do medo", o que não é um bom sinal, ele afirma. "Quando se soltam, acabam perdendo o pé e transando sem nenhum cuidado. O orgasmo leva as pessoas à loucura." Júlio diz que os encontros nos cinemas e nas boates mostram que as pessoas não estão se cuidando. No escuro, acreditam que não estão correndo perigo. (AB) Texto Anterior: Inconsciente incentiva contágio, diz médico Próximo Texto: Doença no intestino tem diagnóstico lento Índice |
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