São Paulo, domingo, 24 de novembro de 1996
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Igreja 'faz as pazes' com regime de Fidel

JEAN-MICHEL CAROIT
DO "LE MONDE", EM SANTO DOMINGO

O encontro do papa João Paulo 2º com Fidel Castro, semana passada, e o convite para que o pontífice visite Cuba no próximo ano marcaram o ápice de um processo pelo qual igreja e Estado comunista, pouco a pouco, passaram de adversários a relativos aliados.
O "período especial" decretado para fazer frente à grave crise econômica provocada pelo colapso do comunismo coincidiu com um aumento acentuado na prática religiosa. Nesses últimos anos, o número de batismos celebrados na ilha quintuplicou. Hoje, cerca de 70% das famílias cubanas pedem funerais religiosos -porcentagem comparável a antes da Revolução. Segundo o Instituto Gallup, 60% dos cubanos assistiram a uma cerimônia religiosa nos três meses anteriores à sondagem.
As relações entre igreja e Estado, conflituosas no início da Revolução, começaram a melhorar a partir de 1985. Com a modificação da Constituição de 1992, o Estado cubano deixou de ser ateu para tornar-se laico. Essa reforma, bem recebida pela igreja, ratificou a transição da repressão à tolerância.
Em setembro de 1993, a publicação de uma longa mensagem da conferência episcopal, criticando a onipresença da ideologia oficial e as restrições à liberdade, provocou uma grave crise entre a igreja e o regime. Os bispos, que pediam "transformações reais, diante da extrema gravidade da situação econômica e social", foram acusados pela imprensa oficial de ser "cúmplices históricos dos inimigos da nação". Mesmo assim, na época, a igreja fez questão de repetir sua posição contrária às sanções econômicas americanas.
O arcebispo de Havana, cardeal Jaime Ortega, saudou a publicação, em agosto passado, de um documento do Comitê Central, sublinhando que "o aumento das práticas religiosas não constitui problema para a Revolução, à medida que elas promovem o amor pelo próximo, o desinteresse, a proteção aos mais fracos, a unidade da família, a justiça social, as virtudes morais, o amor e o sacrifício em prol da pátria".

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