São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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Pai acusa diretora de jogar urina em aluno

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A 2ª Delegacia de Ensino de São Paulo está apurando denúncia de dois pais de alunos que acusam uma diretora de escola de punir seus filhos jogando urina neles.
O caso ocorreu há um mês na Escola Estadual Antoine Saint-Exupéry, no Limão (zona norte de São Paulo), de acordo com os pais Jorge Luiz Vieira, 34, e Wilson Domingos Branco, 40, e um dos meninos, entrevistados pela Folha. Por temer represálias, os meninos teriam demorado a contar o caso.
O garoto que falou à reportagem, de 14 anos, diz que no dia da suposta punição ele e seu amigo, de 13 anos, estavam no banheiro "zoando". Os dois pegaram urina em um balde e jogaram em colega, que também estava no banheiro.
"Corremos para a sala de aula." O estudante atingido foi à diretora reclamar e, pouco depois, os dois garotos foram levados de sua classe para a diretoria. No livro de ocorrências da escola, a história acaba aí: os dois alunos foram repreendidos verbalmente pela diretora, Sonia Nobre Marafante.
Mas, segundo os pais, a diretora levou os meninos da diretoria ao pátio, exigiu a retirada de outros alunos, mandou o segurança da escola -identificado apenas como Maurício- trazer urina do banheiro em um balde e jogou neles.
"Ela disse que era para a gente sentir como era o cheiro de urina na nossa roupa", afirma o garoto. "Eu não assisti mais aulas. Dizem que a diretora vai sair, aí eu volto."
A reportagem da Folha foi à escola na sexta-feira passada. Sonia, a diretora, afirmou que já tinha dado sua versão ao delegado e que não tinha mais nada a dizer.
A reportagem buscou, então, falar com Maurício, o segurança, mas foi impedida pela diretora, que expulsou a reportagem.
Depois, Sonia consultou a Udemo (sindicato dos diretores) sobre possíveis medidas legais contra a reportagem e, à noite, foi à sede Folha com quatro professores. Todos negaram qualquer agressão aos meninos e a diretora mostrou o livro de ocorrências. Os garotos têm várias passagens pela diretoria por questões disciplinares.
O delegado da 2ª Delegacia, João Batista Massarico, afirma que "procura esclarecer os fatos". Segundo ele, há uma disputa política interna na escola, em que um grupo de pessoas estaria tentando "derrubar" a diretora.
As famílias dos meninos envolvidos são de baixa renda. Os pais reconhecem que não acompanham o desempenho escolar dos filhos, mas não se conformam com o que a diretora teria feito: "Se hoje estão jogando urina, amanhã estarão espancando", diz Jorge, que é pintor de carros em uma funilaria.

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