São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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Desalojado diz sofrer pressão para mudar

LUCIANA BENATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os moradores das casas atingidas pela queda do Fokker-100 da TAM, no acidente do último dia 31, afirmam estar sendo pressionados pela Unibanco Seguros a deixar o flat onde estão hospedados.
Procurada, a empresa não se pronunciou sobre o assunto.
Desde o dia do acidente, cerca de 60 pessoas, pertencentes a 23 famílias, vinham sendo hospedadas no Golden Flat no Campo Belo (zona sul), com suas despesas pagas pela TAM, que deverá ser ressarcida pela seguradora.
Pelo menos seis famílias deixaram o flat na semana passada. Elas se mudaram para casas ou apartamentos alugados com o dinheiro pago pela Unibanco Seguros.
As indenizações pelos danos nos imóveis ainda não foram pagas, mas parte dos moradores já recebeu o valor referente aos bens que estavam no interior das casas.
Segundo os moradores, a seguradora estaria estabelecendo prazo de três dias após o recebimento das indenizações e do aluguel para que as famílias deixem o flat.
Os recibos de indenizações relativas a bens pessoais pagas esta semana continham observação estipulando prazo para a mudança.
Lourdes de Souza, 56, e os dois filhos saíram do flat na quarta-feira. A família teve de se comprometer a mudar até essa data na segunda, ao receber cheque de R$ 4 mil relativo a três meses de aluguel.
Eles se mudaram para uma casa arrumada por parentes no Ipiranga (zona sul). "Eu fico receosa de sair daqui", afirmou Lourdes na noite de terça-feira. Segundo ela, nenhuma imobiliária quis alugar uma casa por apenas três meses, prazo estipulado pela seguradora.
Sandra Mazzorana de Oliveira, cunhada do professor Marco Antônio de Oliveira, uma das vítimas do acidente, está hospedada no flat junto com outros dez familiares.
Ela confirmou que a seguradora estaria estipulando prazo de três dias após o pagamento da indenização para a saída do flat.
Segundo ela, os moradores estão tentando negociar para que esse prazo seja ampliado para pelo menos 15 dias. Também querem que o período de pagamento do aluguel pela seguradora aumente de três para seis meses. "Não vamos sair do hotel enquanto não houver uma proposta boa", afirmou.
O jornalista Jorge Tadeu da Silva, 33, que está no flat com sua mulher e os pais, tem outra queixa. "Tacharam o bairro de pobre e desvalorizam o que tínhamos."
Ele afirma que teve de fazer um histórico de sua vida profissional para justificar os valores que pediu pelos bens destruídos no acidente.
Outro lado
O presidente da Unibanco Seguros, José Rudge, única pessoa da empresa autorizada a falar sobre o assunto, foi procurado de terça a sexta-feira, mas não atendeu a reportagem da Folha.
Dirceu Morandini, responsável pela empresa contratada pela seguradora para apurar os danos gerados pelo acidente nega que esses problemas estejam ocorrendo.
Segundo ele, antes de receber a indenização e o dinheiro para o aluguel, as pessoas estipulam quantos dias precisam ficar no flat.
Ele afirma que na semana passada duas pessoas assinaram o recibo com uma ressalva de que queriam continuar no flat.
"Vamos arcar com as despesas de hospedagem das pessoas, seja em casa alugada, seja no flat."

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