São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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E o tricolor ficou mesmo entravado no gargalo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

E acabou dando a zebra: Goiás e Lusa se classificaram na rodada final.
Zebra uma ova. Afinal, se bem analisados os pretendentes às duas vagas, esses eram dois times que têm algo mais para oferecer ao Campeonato Brasileiro.
A Portuguesa revelou o menino Rodrigo, um canhoto incisivo e habilidoso; o Goiás, esse garoto Lúcio, cheio de manhas e tiques.
Pelo menos é alguma coisa.
*
E o tricolor ficou mesmo no gargalo, entravado, do início ao fim do jogo contra o Paraná. A não ser no raro instante em que tomou o gol e replicou.
Era pouco, quase nada.
*
É mais ou menos como em tempos de ditadura, quando a primeira vítima é sempre a imprensa. No escuro mundo dos cartolas do nosso futebol, vira-e-mexe, eles tentam atirar sobre a imprensa a culpa de seus próprios erros.
Tempos atrás, a imprensa era a responsável pela evasão de público nos estádios porque exercia com rigor seu papel crítico, pois, sob as cartolas ensebadas, cultivavam a espúria confusão entre jornalismo e publicidade.
Agora, é a vez da TV, apontada por dedos descarnados como a maldição eletrônica que espanta o público dos estádios. Ainda outro dia ouvi no rádio o presidente Farah anunciar que iria até mesmo proibir a transmissão de jogos de outros países nos horários reservados às rodadas do nosso futebol. É o fundo do poço.
Mas não é novidade. Isso vem desde os tempos pioneiros da TV, quando as emissoras, diante de proibições extemporâneas, chegavam a escalar os muros do Pacaembu ou do Parque Antarctica para cumprir sua missão. Se seguirmos nesse rastro, vamos colher até o rádio, ainda jovem e imaturo, repetindo tais proezas.
O lance mais emblemático, porém, aconteceu nos meados dos anos 60, quando a TV Record era a bam-bam-bam do pedaço. Suas transmissões, sob a direção do Tuta, eram um show de imagens e criatividade. Pois numa dessas pirotecnias, a câmera colheu um ilustre cartola, casado e respeitável, em arrulhos e cicios com uma dama indevida, lá na tribuna de honra do Pacaembu.
Incontinenti, na segunda-feira, baixou-se a ordem: TV fora dos estádios em transmissões diretas. Justificativa: evasão de público.
Resultado: sem ter o que pôr nas tardes de domingo, Paulinho de Carvalho teve de inventar um programinha de última hora, com um cantor do nascente rock absolutamente desconhecido.
Splish, splash! Nasceu a Jovem Guarda de Roberto Carlos e cia.
Consequência: toda uma geração de jovens, até então colados ao futebol, trocou a bola pela guitarra.
*
Êta bicho burro esse inglês do Barcelona. É o Robinson Crusoé, solitário, numa ilha cercada de talentos por todos os lados, e ele morrendo por falta de ousadia e criatividade.
Quando escalou três zagueiros para enfrentar o Atlético de Bilbao, deixando, entre outros, De La Peña no banco, anunciou a angústia. Quando meteu De La Peña no lugar de Giovanni, selou a derrocada.

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