São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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Personagens querem mudar o mundo

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Três jovens se envolvem em um triângulo amoroso e, simultaneamente, planejam um ato de terrorismo. Eles querem explodir os shoppings, o prédio do Detran e as antenas de TV com o intuito de promover o massacre da cultura de massa e o alívio de informação.
Esse é o enredo de "Promisquidade", de Pedro Vicente, 29, texto que será lido amanhã, às 19h30, no auditório da Folha, por Fernando Alves Pinto, Graziela Moretto e Regina França.
O título "Promisquidade" leva "q" em uma referência ao "quiproquó", que significa tomar uma coisa por outra, segundo Pedro Vicente. "É para realçar a confusão. E também para instigar as pessoas a pensar", explica ele.
A peça brinca, faz um jogo com os significados de palavras e situações. Do termo promiscuidade, geralmente usado com conotação sexual, o autor resgata seu outro significado. "É a mistura, a falta de pureza", diz.
Pedro Vicente ficou conhecido com o texto de "Banheiro" (95), peça em que, durante uma festa de Réveillon, brigas, encontros e desencontros aconteciam no banheiro da casa, onde rolava muito álcool e cocaína.
Tesão
Os personagens da peça são supertrepadores. "Eles têm tanto tesão que querem transformar o mundo. O sexo em exagero é uma metáfora da superinformação, de nunca estarmos satisfeitos com o que a alta tecnologia oferece. Ter oito orgasmos, para uma das personagens, não é suficiente."
O triângulo amoroso é formado por Léo, Léa e Madalena. "Escrevi esse texto logo depois de viver um triângulo amoroso, que é a situação ideal. Como para mim não deu certo, foi uma forma de sublimar a frustração de não ter conseguido executá-lo."
Mas ele explica que as personagens do texto não são reais. "Eles vivem em um plano superior, são arrogantes, não têm reflexo da realidade."
As primeiras cinco cenas são diálogos entre dois dos personagens, sempre "na cama, após o sexo". Desses diálogos começam a aparecer as idéias terroristas de explodir vários lugares da cidade, mas sem a ocorrência de uma morte sequer. "Shoppings, Detran e antenas são conceitualmente explodíveis. Os shoppings são a estetização total, substitui a praia, a praça, a rua. Eles tiram das pessoas a necessidade de capricho pela vida."

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