São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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Porto Seguro tenta 'arrastão da limpeza'

MARIA REGINA ALMEIDA
ENVIADA ESPECIAL A PORTO SEGURO

Uma campanha liderada por comerciantes de Porto Seguro, no sul da Bahia, tenta arrecadar R$ 100 mil para investir na limpeza pública da cidade antes da chegada do verão -principal estação do ano para o mercado turístico.
O "arrastão da limpeza" tem a participação de hoteleiros e da sociedade civil. Porto Seguro é a segunda cidade que recebe mais turistas na Bahia, perdendo apenas para a capital, Salvador.
O grupo resolveu tomar a dianteira para fazer a coleta de lixo porque a prefeitura alega não ter dinheiro para fazer o serviço.
A previsão da Associação Comercial é que cerca de 200 mil turistas visitem a cidade entre o réveillon e o Carnaval.
Mas a cidade onde o Brasil nasceu, prestes a comemorar 500 anos de descobrimento, não tem, ainda, motivos para se orgulhar.
O lixo se amontoa pelo centro da cidade e nos principais pontos turísticos, como na Cidade Histórica -o mais importante marco do descobrimento do Brasil.
O busto do primeiro donatário de Porto Seguro, Pero de Campo Tourinho, está todo rodeado de sacos de lixo, depositados pelos próprios moradores e pelas centenas de turistas que visitam o local todos os dias.
A estátua erguida em sua homenagem fica na Cidade Histórica, porta de entrada para conhecer todo o sítio do descobrimento.
Lixo
A iniciativa da campanha, no mínimo inusitada, é da Associação Comercial de Porto Seguro, que teme que a sujeira possa espantar os turistas.
O presidente da entidade, Aldenir Pires, 54, disse que serão colocados à venda mil bônus no valor de R$ 100 cada um para ser aplicados na coleta de lixo nos próximos três meses. Ele denominou a campanha de "SOS Lixo".
O prefeito João Carlos Mattos de Paula (PFL) disse que a campanha de limpeza não vai dar certo porque os empresários da cidade estão interessados apenas em tirar "proveito do turismo".
"A prefeitura está sem recursos porque a sonegação de impostos aqui é institucionalizada. Este mês nossa arrecadação não vai chegar a R$ 500 mil, e temos de cumprir com uma folha de pagamento de R$ 380 mil", completa.
O prefeito é proprietário do hotel Porto Seguro Praia, instalado na cidade há 23 anos.
Ele afirma que não está preocupado com a imagem da cidade perante os turistas. "Não posso fazer nada. O meu hotel está limpo", diz o político-empresário.
Centro histórico
Os problemas não param por aí. O centro da cidade -considerado como área de preservação rigorosa devido a sua arquitetura colonial datada do século 18- sofre as consequências do turismo de massa, que nos últimos quatro anos se tornou o principal filão dos comerciantes e hoteleiros.
O trânsito pesado que circula no local está comprometendo a estrutura das casas coloniais, e a poluição visual descaracterizou suas belas fachadas coloridas, segundo a diretora do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural), Cássia Maria Silva Boaventura, principal interessada em parar esse processo.
"O trânsito pesado de caminhões e ônibus que circulam nas ruas está provocando rachaduras e destruindo um patrimônio histórico importantíssimo para a memória do país", diz Boaventura.
Rodeada de leis descumpridas, que deveriam garantir que apenas carros leves passassem pelas ruas históricas e que comerciantes não colocassem placas de propaganda, Boaventura diz que depende diretamente da Prefeitura de Porto Seguro para fiscalizar e garantir o cumprimento da legislação.
O prefeito afirma que, para fiscalizar, a administração municipal precisaria de mais funcionários, e, novamente, a falta de recursos é a justificativa.

LEIA MAIS sobre Porto Seguro na pág. 6-14

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