São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 1996
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Turismo sem controle ameaça

MARIA REGINA ALMEIDA
DA ENVIADA ESPECIAL

As praias de Porto Seguro, famosas por suas belezas paradisíacas, estão com suas paisagens transformadas pelo boom imobiliário.
"Muitas delas são palcos de barracas que mais se parecem com fortalezas", afirma o diretor da Ascae (Associação Cultural Arte e Ecologia), Ricardo Montagna.
Ele diz estar preocupado com a falta de controle da prefeitura na liberação de áreas para a construção de empreendimentos.
"O poder público é quem deveria cuidar dessa questão e não está cumprindo a sua parte."
A presidente do Movimento de Defesa de Porto Seguro, Elisabeti Felman, faz coro com Montagna. "O descaso da prefeitura, aliado a um turismo mal planejado, está acabando com a cidade", salienta.
Ela toca fundo na principal ferida que incomoda moradores e ambientalistas -o turismo massificado promovido por grandes operadoras, como a Soletur e a CVC.
"Elas promovem um turismo predatório, trazendo centenas de turistas sem um pingo de consciência ecológica", afirma.
Turismo predatório
Dois dos mais importantes pontos turísticos de Porto Seguro foram danificados pelo excesso de visitação e pela falta de um controle mais rigoroso para a preservação dos locais.
A lagoa Azul, na praia da Pituba, foi destruída pelos turistas, e há o risco de sua nascente de águas claras e límpidas não voltar a fluir.
Técnicos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) fecharam o local para visitação e estão elaborando um laudo sobre a possibilidade de recuperação integral ou parcial da área.
Outro local ameaçado pela interferência do homem é o recife de Fora -um banco de recifes e corais com piscinas naturais localizado a 40 minutos de Porto Seguro, em mar costeiro.
"Os corais estavam sendo levados pelos turistas, assim como aconteceu com a areia ao redor da lagoa Azul (alardeada como sendo de propriedades curativas)", afirma Felman.
Tentativa
Consciente de que precisa mudar os rumos dessa triste história, a Soletur lançou na cidade a campanha Viajar é Preservar, para tentar incutir nos turistas a importância da preservação ambiental (leia texto ao lado).
As entidades ambientalistas na cidade são unânimes em afirmar que falta a Porto Seguro uma política séria de urbanização e controle do turismo.
Só essa política seria capaz de garantir a preservação de praias e do patrimônio histórico, impondo restrições e limites para impedir que outros santuários paradisíacos sejam destruídos.
As suas praias, que tanto encantaram os marinheiros da esquadra de Cabral há pouco menos de 500 anos, atualmente, no ranking de preferência da maioria dos turistas, perdem espaço para as festas e o Carnaval, considerado um dos mais animados da Bahia.
Mas não só de problemas vive a cidade. A "terra mater do Brasil" ainda conserva em sua gente a hospitalidade espontânea e uma magia sem igual que tanto cativa os seus visitantes.
(MRA)

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