São Paulo, terça-feira, 26 de novembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MacLaine volta a "Laços de Ternura"

CLÁUDIA TREVISAN
DE NOVA YORK

Shirley MacLaine está de volta ao que considera o personagem preferido de sua carreira: Aurora Greenway, a mãe que viu a filha morrer de câncer em "Laços de Ternura" e que lhe valeu o Oscar de melhor atriz em 1984.
Aurora reaparece em "The Evening Star", a continuação de "Laços de Ternura". Desta vez, ela enfrenta problemas com seus três netos e lida com a velhice, a morte e o relacionamento amoroso.
MacLaine falou sobre o filme e sua carreira em entrevista concedida em Nova York no sábado. A seguir, os principais trechos:
*
Folha - A sra. vê grandes mudanças na indústria do cinema desde que começou a fazer filmes?
Shirley MacLaine - Claro.
Folha - Mudanças para melhor ou pior?
MacLaine - Um pouco dos dois. Eu acho que a grande mudança foi o surgimento do mercado independente, porque antes só existiam os filmes de estúdio.
Agora, há filmes independentes e é onde você pode encontrar filmes realmente bons. Eu acho que os filmes de estúdios são feitos em função da bilheteria. Eles não dão chance para riscos, o que os filmes independentes fazem.
Folha - A sra. faz filmes independentes?
MacLaine - Com certeza. Eu fiz "Madame Souzatska" (1988). Eu certamente voltaria a fazer. Mas eles não têm escrito bons papéis para mulheres.
Folha - A sra. tem mais prazer em fazer filmes agora do que tinha no início de sua carreira?
MacLaine - Quando eu era muito jovem, existia uma espécie de sentimento familiar, porque o antigo sistema dos estúdios tinha esse ambiente. Você tinha um contrato e sempre havia trabalho, porque eles tinham de pagar por dois ou três filmes por ano. Você não precisava procurar por scripts.
Em compensação, alguns dos scripts ou eram horríveis ou você não queria fazer. Foi por essa razão que eu terminei meu contrato.
A maneira de atuar também era mais formal. Os escritores não permitiram improvisações e mudanças em seu texto. Isso só veio a ocorrer muito mais tarde, e as coisas ficaram mais divertidas.
Eu acredito que o nascimento do verdadeiro poder de uma estrela ocorre com aqueles que são capazes de fazer ajustes e colocar sua própria personalidade nos diálogos e no script, o que era impossível durante os anos 50, 60 e parte dos 70. Agora, se eu gosto mais do que gostava? Não sei, é diferente.
Folha - Quanto de Shirley MacLaine há em Aurora Greenway?
MacLaine - Há muito de mim em todos os personagens. Mas talvez mais neste do que nos outros. Ela é o meu personagem favorito. Eu amo Aurora. Ela é parte do que eu sou e do que eu gostaria de ser.
Folha - Aurora mudou desde "Laços de Ternura"?
MacLaine - Sim, mas ela continua tendo o seu sistema básico de valores e não vai abrir mão dele.
Folha - O que mais a fascina nesse personagem?
MacLaine - Eu acredito que é a diversidade de seu território emocional. Ela é honesta todo o tempo. Nunca há segredos sobre o que Aurora pensa ou sente. Eu acho que é por isso que os homens se aproximam. Eles gostam de saber com quem estão se relacionando.
E essa característica deixa os jovens loucos, porque eles gostam de ser mimados o tempo todo. E ela não mima, ela diz a verdade. Eu amo isso.
Folha - A sra. se preocupa com o envelhecimento?
MacLaine - Não. Todo o processo de envelhecer e de se tornar mais sábia é um fabuloso cobertor. Eu me sinto envolvida pela sabedoria. Eu acho que ela me protege.

Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowicth
Próximo Texto: Sequência tem conflitos entre Aurora e os netos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.