São Paulo, quarta-feira, 27 de novembro de 1996
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Ceará quer aproveitar carne do caju

Estado é o maior produtor

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Segundo a Embrapa do Nordeste, parte carnosa da fruta pode ser empregada no combate à fome na região Ceará quer aproveitar carne do caju

Produtores do Ceará estão se mobilizando para reduzir o índice de desperdício do pedúnculo do caju (parte carnosa da fruta).
O Ceará é o principal produtor de caju do país.
Historicamente, o parque industrial cearense sempre deu prioridade ao beneficiamento da castanha do caju.
A parte carnosa é industrializada embrionariamente na fabricação de sucos e doces.
No final de outubro, cerca de 60 produtores e industriais ligados ao setor reuniram-se com representantes do governo do Estado e de institutos de pesquisas agrícolas num fórum, em Fortaleza, para discutir as tecnologias de aproveitamento do pedúnculo.
O chefe da seção cearense da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), João Pratagil, diz que "está comprovado" que a parte carnosa do caju pode ser uma alternativa alimentar para reduzir a fome no Nordeste.
Segundo ele, é possível misturar a carne do caju com vários outros alimentos.
"A parte carnosa do caju que vai para o lixo é rica em fibras, vitamina C e sais minerais como o cálcio, ferro e fósforo. Se combinarmos o pedúnculo com ovo ou queijo, o valor protéico agregado é altíssimo", explica o técnico da Embrapa do Ceará.
O presidente do Sindicato dos Produtores de Caju do Ceará, Paulo de Tarso Ferreira, diz que o desperdício ocorre devido à falta de tecnologia para o uso do pedúnculo e incentivo para comercializar os produtos já existentes.
"Se os governos da região Nordeste incorporassem a rapadura e o suco do caju na merenda escolar, por exemplo, os produtores iriam se interessar mais em aproveitar a parte carnosa", diz Ferreira.
Ferreira afirma que está distribuindo uma cartilha, entre os produtores, na qual ensinam-se métodos de aproveitamento da parte carnosa do caju e otimização da colheita de castanha.
Pratagil, que também é presidente da Epace (Empresa de Pesquisa Agrícola do Ceará), diz que o primeiro passo para a industrialização em larga escala foi dado com o desenvolvimento, em laboratório, de um cajueiro do tipo anão que é 20 vezes mais produtivo do que o convencional.
"O segundo passo foi a descoberta, por técnicos da Embrapa, de um processo que conserva a parte carnosa do caju, por até dois meses, com as propriedades idênticas às do fruto in natura", diz Pratagil.
Durante o fórum, técnicos da Embrapa e da Epace apresentaram protótipos de cerveja, vinho, refrigerante e soda fabricados a partir do pedúnculo do caju e que já podem ser industrializados comercialmente.
O secretário de Agricultura do Ceará, Pedro Sisnando, afirma que o governo já fez sua parte, financiando e estimulando pesquisas sobre o aproveitamento da parte carnosa do caju.
"Os produtos que podem ser feitos pelos pequenos produtores, nossa empresa de extensão rural ensina a fazer"', afirma o secretário de Agricultura.
Segundo ele, outros setores agora devem fazer sua parte. "Cabe aos empresários inteligentes, por exemplo, descobrirem este filão inesgotável", diz Sisnando.

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